“O teste da felicidade é a gratidão.”
G. K. Chesterton
G.K. Chesterton escreveu cerca de cem livros sobre fé, filosofia, biografia, poesia, análise social e política. Caracterizava-o um sentimento de deslumbramento perante a vida: Permaneceu, ao longo de toda a sua existência, maravilhado como uma criança pela presença de todas as coisas.
A sua gratidão manifesta-se em todos os seus escritos. Neles insiste continuamente em não dar por adquirido aquilo que somos, vemos e temos.
No seu livro Ortodoxia Chesterton diz-nos:
“O teste de toda a felicidade é a gratidão. As crianças ficam gratas quando o Pai Natal põe brinquedos ou doces na sua meia de Natal. Não deveria eu ficar agradecido ao Pai Natal quando ele coloca o maravilhoso presente que é ter duas pernas? Agradecemos às pessoas as prendas de aniversário… Posso expressar a minha gratidão por essa prenda de aniversário que é o nascimento?”
O que podemos fazer para ser felizes? Recuperar o espanto e a alegria pelas coisas comuns: Agradecer todos os dias a novidade de cada dia.
Soube-me bem: O banho de mar a meio da tarde.
Foi inspirador: Ler esta poesia de Chesterton:
"Uma vez encontrei um amigo
"Sou afortunado", disse, "foi feito para mim".
Mas agora encontro mais e mais amigos
que parecem ter sido feitos para mim
e ainda um e mais outro, feito para mim.
É possível que todos nós por toda a terra,
sejamos feitos um para o outro?"
Agradeço: Todos os amigos "feitos para mim."
Acabei de abrir a caixa do correio e vi o boletim informativo dos "Leigos para o desenvolvimento". Nele, um testemunho de uma voluntária na Missão de Água Izé em S.Tomé, onde vivi uma boa parte da minha infância. Não posso deixar de transcrever uma parte do mesmo (apesar de estar com muito pouco tempo para este meu post):
“Qual é o sentido da vida? O que nos faz correr? São perguntas que me ocorrem com frequência. E acredito que sejam perguntas que todos se colocam, pelo menos uma vez na vida.
Eu, ao tentar dar respostas, fui percebendo que o sentido da vida é tão simples e ao mesmo tempo exigente. Mas também percebo que só essa exigência a torna tão bela. Percebi que respostas estruturadas e filosoficamente fundamentadas não me satisfaziam. Descobri que as minhas opções diárias, os meus gestos e os meus compromissos eram a resposta. Fui revelando a mim mesma que a felicidade estava nos momentos em que genuinamente ia ao encontro dos outros e simplesmente estava, ficava, só ficava!”
Carmo Fernandes
Termino com as palavras de Anselmo Borges:
“Sentido tem a ver com caminho, viagem e direcção - nas estradas, por exemplo, encontramos placas em seta a indicar o caminho e a direcção para alcançar uma meta, um objectivo, um destino. Qual é então o caminho e o sentido da existência humana? O que move a minha vida?
O famoso psiquiatra Viktor Frankl verificou que nos campos de concentração sobreviviam mais aqueles que ainda tinham um sentido para a existência: reencontrar a família, realizar uma obra, lutar para que nunca mais acontecesse o intolerável. O que significa que o sentido não está em nós, mas fora. Se estivesse em nós, não se colocaria a questão, pois estaria sempre presente. O sentido está no encontro com o mundo e com os outros: é saindo de si que o Homem vem a si. Dá um exemplo: quando se começa a ver pequenas manchas à frente do olho, é bom ir ao médico, pois está doente: o olho é intencional, isto é, não foi feito para se ver a si mesmo, mas o que não é ele. Paradoxalmente, só saindo de si é que o Homem encontra sentido. É o amor que dá sentido. Por isso, sente a vida como tendo sentido quem vê a sua existência reconhecida. A nossa vida não tem sentido, quando não vale para ninguém.”
Soube-me bem: Passear no jardim do Palácio dos Aciprestes.
Foi inspirador: Ler o testemunho de Carmo Fernandes.
Agradeço: Todas as manifestações de amizade que tenho tido ultimamente.
“Uma nova perspectiva nasceu das neurociências nos últimos 20 anos: Aquilo que alimenta a nossa vida, não é a razão pura, mas o bom equilíbrio do nosso cérebro emocional que precisa, sobretudo, de ligações, de relações.
Encontra-se em quatro domínios:
· A corporalidade – Se não nos autorizarmos a sentir, saborear, tocar, escutar, observar… levando toda a nossa atenção para o momento presente, se não nos deixarmos envolver completamente pelo prazer de rir ou – mais difícil – pelo sofrimento, então não estamos conectados com o nosso corpo. O desporto, como actividade física, absorve a nossa atenção, a nossa suavidade e a nossa força. A meditação, a escuta atenta do outro durante a qual nós ficamos activamente abertos às sensações que evocam aquilo que ele diz ou faz, são também, uma maneira de nos levar a essa primeira fonte de sentido que é a corporalidade: As ondas que se espalham no interior do nosso corpo assim que ele reage ao mundo e sobre as quais nós podemos escolher concentrar a nossa atenção.
· A intimidade – Naturalmente o Amor. Quando nos olhamos nos olhos e sentimos o coração bater mais forte, não nos colocamos nenhuma questão existencial. Tudo aquilo que nos implica numa relação íntima é a âncora da existência com solidez. Não há dúvida sobre o sentido da existência quando seguramos a mão do nosso filho para o levar pela primeira vez à escola, ou quando ouvimos um coro cantar. Além dos parceiros amorosos ou das crianças, todos aqueles que nos são próximos, todos aqueles por quem estamos prontos a dar-nos, todos os que participam do círculo da nossa intimidade, ligam-nos à vida e dão-lhe sentido.
· A comunidade – Mesmo que tenhamos sido bem sucedidos na nossa vida afectiva temos necessidade de ser úteis fora do nosso circuito próximo de intimidade. Temos necessidade de sentir que contribuímos, de alguma forma, para a sociedade da qual fazemos parte e que acolherá, amanhã, os nossos filhos.
· A espiritualidade – É possível sentirmo-nos ligados a uma dimensão maior. Para alguns a fonte de sentido é o sentimento de estar em presença de algo bem maior que tudo isto. Mesmo se essa presença se chama Deus (ou Alá, ou Jeová) ela aparece simplesmente em face da natureza, ou de certos lugares que nos lembram do quanto somos insignificantes no Universo, ou na imensidade do tempo. Estranhamente, é no momento preciso em que experimentamos esse sentimento de pequenez, que simultaneamente, ela, a vida, parece preenchida de sentido e nós com ela.”
Sentir um enraizamento profundo na comunidade, dar uma parte do nosso tempo por uma causa da qual não retiramos qualquer benefício em troca é, segundo David Servan Schreiber, um dos factores determinantes da felicidade.
É preciso encontrar um sentido: Perguntar sempre o que podemos fazer pela vida e não o que ela pode fazer por nós.
Soube-me bem: Ouvir blowin in the wind nas vozes de Peter, Paul and Mary
Foi inspirador: Reler David Servan Shreiber
Agradeço: Tudo o que me inspira.
"Grande parte da vitalidade de uma amizade reside no respeito pelas diferenças, não apenas em desfrutar das semelhanças."
James Fredericks
O amigo é aquele que nos faz "sair" de dentro de nós e, ao mesmo tempo, nos faz sentir que "somos" realmente. Como diz Gille Lipovetsky é a amizade que nos dá o sentimento de existir. Fruto da escolha e da afinidade; de um desejo de verdade e alteridade é a relação que melhor acolhe a singularidade de cada um. A célebre frase de Montaigne dita relativamente à sua amizade com La Boétie "porque era ele, porque era eu" é bem ilustrativa do quanto a nossa singularidade nos aproxima e de que é o AMIGO que nos aceita como somos.
A amizade é uma das relações que mais contribui para a nossa felicidade.
Soube-me bem: Ler os e-mails que recebi ontem e hoje de manhã (um deles justamente sobre a amizade).
Foi inspirador: Receber as palavras da minha amiga Alexandra.
Agradeço: À Alexandra o e-mail que me enviou. Tocou-me profundamente e sinto-me muito grata por tê-la como amiga.
"A amizade é o resultado de encontros bem sucedidos."
Alberoni
Como observa Alberoni, no encontro há uma sinergia de dois destinos. Percorre-se um pedaço de estrada em conjunto em "direcção à descoberta daquilo que, para cada um, é a coisa mais importante".
Na caminhada da amizade há uma descoberta da singularidade e complementaridade de cada um; há uma alegria tranquilizadora que nos acompanha sempre porque sabemos que o amigo está connosco.
Soube-me bem: A manhã na praia.
Foi inspirador: Reler alguns testemunhos do livro "6 milliards d´Autres" que faz parte do projecto de Yann Arthus-Bertrand. Para quem não viu o livro sugiro dar uma vista de olhos no site:
En 2003, après La Terre vue du ciel,
Yann Arthus-Bertrand a lancé avec Sibylle d'Orgeval et Baptiste Rouget-Luchaire le projet "6 milliards d'Autres". 5.000 interviews ont été filmées dans 75 pays par 6 réalisateurs partis à la rencontre des Autres.
Du pêcheur brésilien à la boutiquière chinoise, de l'artiste allemande à l'agriculteur afghan, tous ont répondu aux mêmes questions sur leurs peurs, leurs rêves, leurs épreuves, leurs espoirs :
Qu'avez-vous appris de vos parents ?
Que souhaitez-vous transmettre à vos enfants ?
Quelles épreuves avez-vous traversées ?
Que représente pour vous l'amour ?...
Agradeço: O encontro improvável deste livro aqui em Portugal.