Domingo, 2 de Maio de 2010

Três lições do Tao

“O Tao que pode ser dito não é o Tao absoluto.”

Laozi

 

O Tao, este “princípio primeiro que tudo abarca e origina todos os fenómenos” é impossível de definir. É por “Caminho”, “Via”, “Corrente de vida” que a palavra tem sido traduzida. No entanto, contrariamente à “Via” budista em que a finalidade é chegar ao “Despertar” e contrariamente às três grandes religiões reveladas – judaísmo, cristianismo e islamismo – o Tao não é o objectivo final e não conduz à Verdade. O próprio caminho é o objectivo.

Apesar de ser impossível definir, todos o conhecemos. A nossa vida decorre harmoniosamente quando dele nos aproximamos e agimos de forma espontânea. Ao afastar-nos nada flui. Viver em harmonia com o Tao é estar integrado nele. O Tao faz-nos entender que fazemos parte da natureza e entregando-nos a ela, não há esforço, tudo flui espontaneamente.

Contrariamente ao que muitas vezes se crê, o Tao não é propriedade exclusiva do Taoísmo, mas sim do pensamento chinês na globalidade.

Conhecermos alguns dos princípios do Tao será um passo para encontrarmos o equilíbrio e a fluidez nas nossas vidas. E como nos diz Laozi (Lao Tse) “uma viagem de muitos quilómetros começa por um passo”. O objectivo deste post é o de darmos o primeiro.

 

) “A única coisa que não muda nunca, é que tudo está sempre a mudar.”

Yi Jing (I Ching)

Tudo muda o tempo todo, nunca podemos tomar nada como adquirido. A lembrança de que a mudança é a essência da vida permite-nos relativizar aquilo que nos acontece, dado que tudo pode passar de um momento para o outro. Permite-nos ainda, não nos deixarmos invadir pelas emoções, pois sabemos que elas são passageiras. E por último, leva-nos a dar uma maior atenção às nossas relações com os outros, pois sabemos que elas estão em contínua evolução.

 

2ª) “Entre o sim e o não, a fronteira é bem ténue. O bem e o mal estão entrelaçados.”

Laozi

Qualquer coisa implica o seu contrário: É por isso que me recuso a fazer julgamentos. “Coroa” não é o contrário de “face”: trata-se de uma só e única peça que tem dois lados.

 

3ª) “O melhor dos homens é como a água,
que beneficia todas as coisas,
porém não compete com elas”

Laozi

A metáfora da água encontra-se em inúmeros pensadores chineses e é a imagem, por excelência, do Tao. Tal como a água de um regato busca e encontra o seu curso entre as irregularidades do terreno, assim se vai de encontro ao Tao. Se no seu caminho encontrar obstáculos, vai contorná-los, jamais renunciando à sua primeira vocação que consiste simplesmente em correr. É esta capacidade de adaptação que a torna invencível. A metáfora da água mostra-nos que o elemento mais humilde, mais insignificante na aparência, embora não resistindo seja ao que for, acaba por dominar as matérias mais sólidas – vence, cedendo. A água simboliza a forma como devemos existir: Na maior simplicidade, esquecer o ego, as ambições e desejos pessoais. Seguir o curso natural das coisas, escutar o Tao.

 

 

 

Soube-me bem: Explorar o blogue de Pierre Rabhi. Vale, realmente, a pena fazê-lo. Para quem não conhece este pensador, aqui está, no nosso idioma, um pouco do seu percurso de vida.

 

Qu'est ce que vivre ?

Par Pierre Rabhi

Chacun doit travailler en profondeur pour parvenir à un certain niveau de responsabilité et de conscience et surtout à cette dimension sacrée qui nous fait regarder la vie comme un don magnifique à préserver. Il s’agit d’un état d’une nature simple : J’appartiens au mystère de la vie et rien ne me sépare de rien. Je suis relié, conscient et heureux de l’être. (…)

(…) il faut se mettre dans une attitude de réceptivité, recevoir les dons et les beautés de la vie avec humilité, gratitude et jubilation. Ne serait-ce pas là la plénitude de la vie ?

 

Agradeço: A energia que a natureza me oferece, o quanto me inspira, o quanto me surpreende.

 

PROPONHO PARA REFLEXÃO:

 

“Há quarenta e cinco anos que oriento o meu percurso em torno desta questão: Como me colocar ao serviço da vida, deste planeta cuja beleza não cessa de me cortar a respiração?”

Pierre Rabhi

  • O que é que a natureza representa para si?
  • Desde a sua infância viu a natureza alterar-se? O que é que faz para a preservar?

 

 

publicado por descobrirafelicidade às 10:26
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11 comentários:
De Marta M a 8 de Maio de 2010 às 17:44
Teresa.
Quanto tempo, e experiências, e sofrimento (desculpa-me a ousadia) se leva a apurar uma sensibilidade como a tua?
É evidente que não se chega onde estás com facilidades..
Gosto muito de ler-te, e pensar sobre o que escreves, mesmo hoje que não reúno a capacidade para comentar como mereces...
Abraço grande e bom Domingo ;)
Marta M
De descobrirafelicidade a 8 de Maio de 2010 às 19:56
Marta
Estas tuas palavras fizeram sorrir o meu coração e este teu reconhecimento valeu por mil comentários. Para atingires esta capacidade de perscrutar a alma dos outros faço-as minhas: "Quanto tempo, e experiências, e sofrimento (desculpa-me a ousadia) se leva a apurar uma sensibilidade como a tua? ". Acabei de te ler (tenho estado a corrigir testes e vim desanuviar) e deu-me uma vontade enorme de falar contigo. Fiquei a pensar como é que te tinhas apercebido deste sofrimento de que falas. Ia falar-te dele e depois lembrei-me de uma coisa que escrevi e transcrevi em 1999. Intitula-se Vergonha.
Vergonha de ter falado tantas vezes em sofrimento. Como falar de sofrimento, no conforto da minha casa, dos meus privilégios, com o amor dos meus filhos (a sua saúde, os seus risos...). "Ficaremos sempre aquém daquele sofrimento. Imagine que lhe tiram tudo, que lhe tiram tudo o que tem, mas não tiram tudo ao mesmo tempo. Tiram num dia uma coisa, noutro dia outra, tiram-lhe a mulher, o marido, os filhos, os pais, a família, os amantes. Tiram-lhe os amigos, os conhecidos. Tiram-lhe o lugar onde nasceu, o lugar onde morou, onde mora agora, onde espera morrer. Tiram-lhe a casa, as recordações, os objectos onde se inscreve a história de uma vida. Imagine que lhe pegam fogo à memória e que a deixam arder. E imagine que depois o obrigam a fugir sem ter para onde ir. Imagine o choro de uma criança que deixa de se ouvir quando ela respira pela última vez. Imagine os ossos a estalar. A pele a sangrar..."
Impossível imaginar. Que vergonha!
E de facto perante este sofrimento é uma vergonha dizer que sofri. Enfim, posso dizer que tenho tido um grande trabalho interior... Essa interioridade faz com que me sinta, muitas vezes, "fora" deste mundo e aquela sensação de incompreensão típica dos adolescentes acho que nunca me abandonou. Sentir-me compreendida por ti é uma dádiva que não imaginas o valor que tem para mim. Agradeço-te do coração e queria pedir-te para não te preocupares em comentar como achas que mereço. Basta-me que me dês um alô e que estejas comigo. Um abraço muito grande a desejar que te recomponhas o mais depressa possível totalmente. (eu também estou engripada e, como dizes, não ajuda lá muito.)

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