Domingo, 25 de Abril de 2010

A bagagem da outra pessoa

Hoje tinha pensado escrever sobre outro assunto, mas a leitura do último post da minha amiga Joana remeteu-me para algo que com ele se relaciona: O julgamento e a vontade que temos, muitas vezes, de interferir nas vidas dos outros.

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“Um sujeito colocava flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês a colocar um prato de arroz na lápide ao lado. Vira-se então para o chinês e pergunta:
Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz?
E o chinês responde:
Sim, quando o seu vier cheirar as flores!!!”

 

Esquecemo-nos, frequentemente, que somos diferentes, que agimos e pensamos de forma diferente. Muitas vezes, não respeitamos essa diferença e JULGAMOS pura e simplesmente o outro, sem sequer tentar compreender. Classificamos, rotulamos… Avaliamos constantemente as coisas como certas ou erradas, boas ou más. Este julgamento constante leva-nos, por vezes, a tentar controlar os outros, intrometendo-nos na sua vida, com a presunção de que, melhor do que eles, sabemos qual será a melhor forma de seguirem o seu caminho. Pensamos que o outro é portador de uma determinada bagagem, temos a presunção de saber com que bagagem viaja, imiscuímo-nos na sua vida e insistimos em dizer-lhe o que deve levar. Esquecemo-nos que, nem sempre, a bagagem do outro é aquela que pensamos ser.

 

Eis uma história de Jorge Bucay sobre este tema:

Conta-se que uma senhora argentina foi comprar dois bilhetes para um voo de primeira classe entre Buenos Aires e Madrid. Quando o empregado da agência se apercebeu que o acompanhante da senhora era um macaco, a companhia aérea opôs-se a que um macaco viajasse em primeira classe e não aceitou o argumento da senhora que afirmava que, se pagava, podia decidir com quem viajava e para onde. No entanto, a senhora tinha bastante influência e conseguiu que o macaco fosse como acompanhante, numa caixa especial coberta de lona, numa zona das hospedeiras do avião, em vez de ir no porão da bagagem.

Embora de má vontade, a senhora aceitou e no dia do voo chegou ao avião com uma jaula coberta por uma lona sobre a qual se via bordado o nome “Frederico”. Ela mesma tratou da jaula, certificando-se de que ficava bem arrumada e despediu-se dizendo: “Em breve estaremos na tua terra Frederico, tal como prometi ao Joaquim.”

A meio da viagem, uma hospedeira lembrou-se de dar uma banana e água ao macaco e, ao levantar a lona, apercebeu-se de que o animal estava morto. Rapidamente, avisou os colegas de bordo que contactaram a empresa a pedir instruções. Foram informados de que era necessário que a senhora não se apercebesse de nada, uma vez que eram os seus postos de trabalho que estavam em jogo. Resolveram então substituir o macaco por outro vivo quando chegassem a Madrid (depois de terem enviado a fotografia de Frederico para proceder à substituição). Assim o fizeram: Deram alguns retoques ao macaco vivo e levaram o cadáver de Frederico. Ao descer do avião, a senhora reclamou a jaula à tripulação. Suspirando, a senhora ao dizer que finalmente tinham chegado, levanta a lona e espantada afirma que aquele não é Frederico. Quando lhe respondem que ela está enganada pois todos os macacos são iguais, a senhora observa que Frederico estava morto e ela o levava para o enterrar em Espanha, tal como tinha prometido ao seu marido antes de este falecer.

 

É essencial ter consciência de que não sabemos com que bagagem viaja a outra pessoa e respeitarmos a liberdade e o espaço de que necessita.

 

Soube-me bem: Reler Walt Whitman - "Do I contradict myself? /Very well then I contradict myself,/ (I am large, I contain multitudes.)"

 

Agradeço: As minhas contradições, a diversidade em mim.

 

PROPONHO PARA REFLEXÃO

Estas palavras de Deepak Chopra:

“O não-julgamento cria um silêncio no nosso espírito. Portanto, é uma boa ideia começar o dia com esse propósito. E durante o dia, recorde-se desse propósito sempre que se aperceber que está a fazer um julgamento. Se lhe parecer demasiado difícil manter este procedimento durante todo o dia, pode apenas decidir para si próprio: Durante as próximas duas horas não vou fazer julgamentos sobre nada. Depois, vá aumentando, pouco a pouco, o tempo da duração da experiência."

O silêncio no nosso espírito contribui para o nosso desenvolvimento pessoal e este para a nossa felicidade.

publicado por descobrirafelicidade às 10:31
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10 comentários:
De Maria Mar a 25 de Abril de 2010 às 23:38
Como é importante perceber os outros, entender os seus comportamentos e atitudes, para depois tentar conseguir ajudar a ultrapassar os obstáculos da vida de cada um. Criticar e fazer julgamentos dos outros é fácil. O difícil é esforçar-nos por compreender quem nos rodeia, respeitá-los e se necessário e possível ajudá-los.
Sou professora e esta é uma das questões q me deixa quase diriamente desiludida na escola. Os professores julgam os seus alunos com mt facilidade, na minha opinião , sem na maioria das vezes questionaram a razão q os leva a agirem desta ou daquela forma.
É uma pena pq alem de profs devemos ser tb formadores de cidadãos cívicos .
Gostei mt do seu post .
Obrigada
Maria Mar
De descobrirafelicidade a 26 de Abril de 2010 às 22:39
Fiquei muito contente por "vê-la" aqui, de novo, Maria Mar. E é como diz: O fácil é fazer julgamentos. É a nossa primeira reacção e eu própria a ainda tenho algumas vezes. Uma aprendizagem bem difícil esta. Engraçado a Maria Mar ser também professora. Tanto sentimos, de facto, nesta nossa profissão, esta tendência para julgar sem antes tentar compreender o que está por detrás (seja de alunos, seja dos próprios colegas ou até dos funcionários). Embora acredite que tenha havido uma melhoria, de há uns tempos atrás, em que era uma minoria os professores que efectivamente reflectiam sobre o que determinados comportamentos, de alunos seus, encobriam. Creio que, apesar de tudo, houve uma evolução positiva nesse sentido. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Quanto à minha aprendizagem, não tenho dúvidas, que tenho de a praticar diariamente. Agradeço-lhe muito as suas palavras e a sua companhia. Uma boa semana para si!

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