“Quando o céu está prestes a atribuir uma grande responsabilidade a um homem, seja ele quem for, prepara a sua mente com o sofrimento, sujeita os seus nervos a um esforço duro, expõe o seu corpo à fome, obriga-o a conhecer a pobreza, põe obstáculos no percurso para os seus efeitos de maneira a estimular a sua mente, a endurecer a sua natureza e a melhorar aquilo em que ele não for uma pessoa capaz."
Mengzi
Todos passamos por crises, rupturas, perdas, dor. Há traumas que deixam feridas que jamais cicatrizam ou cujas cicatrizes deixam marcas profundas. O sofrimento pode, de facto, destruir. Existe, no entanto, a outra hipótese: A do sofrimento como motor de transformação, acelerador de evolução. Nada é completamente bom ou completamente mau. O pensamento antigo chinês ajuda-nos a perceber o mundo como totalidade, a encontrar a unidade naquilo que, aparentemente, está separado. Esta percepção ajuda-nos a perceber três benefícios da adversidade como nos diz Jonathan Haidt:
- Enfrentar um desafio faz surgir as nossas capacidades mais ocultas. “Uma das lições mais comuns que as pessoas tiram de uma grande perda ou de um trauma é que são muito mais fortes do que pensavam e esta nova ideia da sua força dá-lhes confiança para enfrentar futuros desafios."
- A adversidade é um filtro das relações que verdadeiramente importam e abre os nossos corações.
- A adversidade modifica as nossas prioridades e filosofia relativamente ao presente fazendo-nos viver plenamente cada dia.
A chave do sofrimento como motor de evolução será a de tentar encontrar um sentido na adversidade e retirar lições construtivas. Encontrar um sentido para o que nos acontece e perguntar-nos o que podemos fazer com ele.
Ao deparar-me com este post questionei-me sobre uma coisa. Existem causas perdidas, coisas que nos fazem sofrer uma e outra vez sempre que lutamos por elas? Porque simplesmente, perante a primeira dificuldade, não desistimos e seguimos em frente? Porque ficamos e continuamos a bater com a cabeça na parede, a ferir-mo-nos no mesmo lugar sem nunca deixar de sangrar? De certo que sofrer nos ajuda a compreender, mas será que teremos forças para continuar a sofrer, ou a esperança fala mais alto fazendo-nos continuar? Consegui ver-me representado neste post e questionar-me de mais uma coisa. Valerá a pena?
Filipe Somos mais dotados para a infelicidade, em geral. É sempre mais fácil, menos custoso em termos de energia psicológica, deixarmo-nos ir no sentimento de infelicidade do que lutar contra ele. Inversamente, fazer durar o bem-estar necessita mais esforços. O espectro de emoções positivas é bem mais restrito, como já referi, há tempos, aqui. A tendência de transformar um obstáculo numa impossibilidade, um revés numa derrota, um incidente numa catástrofe é mais tentadora. Por isso, não devemos desistir "perante a primeira dificuldade". Agora, se avaliamos os nossos esforços como inúteis não se justifica "continuarmos a bater com a cabeça na parede, a ferirmo-nos no mesmo lugar". Aí não fará sentido perseverar. No entanto, não deverá ser à primeira dificuldade porque são as dificuldades que nos fazem crescer, acredita. Deixo-te esta história: “Um dia, um homem encontrou um casulo e resolveu levá-lo para casa para observar a sua transformação em borboleta. A certa altura, apareceu um pequeno orifício no invólucro e ele sentou-se a observar a borboleta enquanto lutava para forçar o seu pequeno corpo a sair através do buraco. Até que, aparentemente, parou de fazer qualquer progresso. Como se tivesse chegado ao limite das suas possibilidades, não podendo ir mais longe. Então o homem decidiu ajudar a borboleta. Pegou numa tesoura e cortou o casulo. A borboleta emergiu facilmente. Mas qualquer coisa estava estranha. A borboleta tinha umas asas raquíticas e um corpo inchado. O homem continuou a observar a borboleta, na expectativa de que, a qualquer momento, as asas aumentassem, de forma a suportarem o corpo que diminuiria com o tempo. Nada disto aconteceu e a borboleta viveu o resto dos seus dias a rastejar com as asas atrofiadas. E nunca conseguiu voar. O que o homem fez, na sua simpatia e impulsividade, foi não compreender que o casulo que restringe e a luta necessária para a borboleta sair pelo pequeno orifício são a forma de levar fluidos do corpo da borboleta para as asas, de modo a esta poder voar, uma vez libertada do casulo. Muitas vezes, as lutas são exactamente o que precisamos na nossa vida. Se percorrêssemos toda a nossa vida sem obstáculos, tornar-nos-íamos deficientes. Não seríamos tão fortes. Não conseguiríamos voar.”
Se lutarmos, conseguiremos voar, pode levar tempo, mas um dia alcançaremos o céu! Luto por uma causa há quase uma ano, sem nunca desistir. Uma causa com altos e baixos, que muitas vezes quase me custou a vida. Mas durante este ano também aprendi muitas coisas e uma delas foi a não desistir por muito que nos pareça aliciante. Lutar e não desistir é a chave para alcançar um objectivo superior, independentemente do tempo que demoramos a alcança-lo. Mas ainda assim me questionei, pois por vezes tenho vontade de seguir o caminho mais fácil. Perguntando-me inúmeras vezes se valerá a pena...embora eu mesmo saiba que vale e que por muito pense faze-lo, em seguir o caminho mais fácil, não o farei, pois sei que não desistirei.