“Quando o céu está prestes a atribuir uma grande responsabilidade a um homem, seja ele quem for, prepara a sua mente com o sofrimento, sujeita os seus nervos a um esforço duro, expõe o seu corpo à fome, obriga-o a conhecer a pobreza, põe obstáculos no percurso para os seus efeitos de maneira a estimular a sua mente, a endurecer a sua natureza e a melhorar aquilo em que ele não for uma pessoa capaz."
Mengzi
Todos passamos por crises, rupturas, perdas, dor. Há traumas que deixam feridas que jamais cicatrizam ou cujas cicatrizes deixam marcas profundas. O sofrimento pode, de facto, destruir. Existe, no entanto, a outra hipótese: A do sofrimento como motor de transformação, acelerador de evolução. Nada é completamente bom ou completamente mau. O pensamento antigo chinês ajuda-nos a perceber o mundo como totalidade, a encontrar a unidade naquilo que, aparentemente, está separado. Esta percepção ajuda-nos a perceber três benefícios da adversidade como nos diz Jonathan Haidt:
- Enfrentar um desafio faz surgir as nossas capacidades mais ocultas. “Uma das lições mais comuns que as pessoas tiram de uma grande perda ou de um trauma é que são muito mais fortes do que pensavam e esta nova ideia da sua força dá-lhes confiança para enfrentar futuros desafios."
- A adversidade é um filtro das relações que verdadeiramente importam e abre os nossos corações.
- A adversidade modifica as nossas prioridades e filosofia relativamente ao presente fazendo-nos viver plenamente cada dia.
A chave do sofrimento como motor de evolução será a de tentar encontrar um sentido na adversidade e retirar lições construtivas. Encontrar um sentido para o que nos acontece e perguntar-nos o que podemos fazer com ele.
Querida Teresa, é verdade. O sofrimento tem sempre um sentido. Aos 20 anos e num grande sofrimento que tive disseram-me que um dia ia perceber o sentido. E percebi mesmo e aprendi a confiar que nada acontece por acaso. Tudo tem um sentido mesmo que não o percebamos. Por exemplo, quando morreu uma prima minha com 38 anos e deixa duas filhas, na altura a mais pequenina com um ano e 4 meses, parece que nada faz sentido mas eu sei e confio que tem e que um dia vou saber qual foi. Sabe Teresa, acho que nós que tanto procuramos a felicidade aprendemos e transformamo-nos muito mais no sofrimento do que na alegria. É estranho. Ou não. Acho que nos habituámos a que tudo de bom que acontece é um direito que temos e não damos tanta importância ou damos mas esquecemos rápido. No sofrimento aquilo que realmente importa, o que é essencial fica claro e nitido. E não podemos nunca esquecer o essencial. Os outros, o bem que podemos fazer, o amor. Tenho aprendido nas situações mais dificeis que vale a pena confiar, acreditar, saber esperar, amar, nunca desistir e fazer o pequeno bem que nos é possivel aqui e agora. E um dia perceberei o sentido de tudo. Um beijo cheio de carinho e ternura a si e à Nucha. Não esqueci ontem o Pai de ambas.
Teresinha Como diz João de Bragança devemos perguntar-nos não "porquê" e sim "para quê": "Para que é que as coisas me acontecem, ou seja, o que podemos fazer com os acontecimentos" e não, porque é que me acontecem.Tentar encontrar o sentido do sofrimento permite-nos lidar com ele e encontrar o benefício da adversidade. Não é fácil, mas creio que é possivel e é a possibilidade da nossa construção. Obrigada pelo seu carinho.
Ao deparar-me com este post questionei-me sobre uma coisa. Existem causas perdidas, coisas que nos fazem sofrer uma e outra vez sempre que lutamos por elas? Porque simplesmente, perante a primeira dificuldade, não desistimos e seguimos em frente? Porque ficamos e continuamos a bater com a cabeça na parede, a ferir-mo-nos no mesmo lugar sem nunca deixar de sangrar? De certo que sofrer nos ajuda a compreender, mas será que teremos forças para continuar a sofrer, ou a esperança fala mais alto fazendo-nos continuar? Consegui ver-me representado neste post e questionar-me de mais uma coisa. Valerá a pena?
Filipe Somos mais dotados para a infelicidade, em geral. É sempre mais fácil, menos custoso em termos de energia psicológica, deixarmo-nos ir no sentimento de infelicidade do que lutar contra ele. Inversamente, fazer durar o bem-estar necessita mais esforços. O espectro de emoções positivas é bem mais restrito, como já referi, há tempos, aqui. A tendência de transformar um obstáculo numa impossibilidade, um revés numa derrota, um incidente numa catástrofe é mais tentadora. Por isso, não devemos desistir "perante a primeira dificuldade". Agora, se avaliamos os nossos esforços como inúteis não se justifica "continuarmos a bater com a cabeça na parede, a ferirmo-nos no mesmo lugar". Aí não fará sentido perseverar. No entanto, não deverá ser à primeira dificuldade porque são as dificuldades que nos fazem crescer, acredita. Deixo-te esta história: “Um dia, um homem encontrou um casulo e resolveu levá-lo para casa para observar a sua transformação em borboleta. A certa altura, apareceu um pequeno orifício no invólucro e ele sentou-se a observar a borboleta enquanto lutava para forçar o seu pequeno corpo a sair através do buraco. Até que, aparentemente, parou de fazer qualquer progresso. Como se tivesse chegado ao limite das suas possibilidades, não podendo ir mais longe. Então o homem decidiu ajudar a borboleta. Pegou numa tesoura e cortou o casulo. A borboleta emergiu facilmente. Mas qualquer coisa estava estranha. A borboleta tinha umas asas raquíticas e um corpo inchado. O homem continuou a observar a borboleta, na expectativa de que, a qualquer momento, as asas aumentassem, de forma a suportarem o corpo que diminuiria com o tempo. Nada disto aconteceu e a borboleta viveu o resto dos seus dias a rastejar com as asas atrofiadas. E nunca conseguiu voar. O que o homem fez, na sua simpatia e impulsividade, foi não compreender que o casulo que restringe e a luta necessária para a borboleta sair pelo pequeno orifício são a forma de levar fluidos do corpo da borboleta para as asas, de modo a esta poder voar, uma vez libertada do casulo. Muitas vezes, as lutas são exactamente o que precisamos na nossa vida. Se percorrêssemos toda a nossa vida sem obstáculos, tornar-nos-íamos deficientes. Não seríamos tão fortes. Não conseguiríamos voar.”
Se lutarmos, conseguiremos voar, pode levar tempo, mas um dia alcançaremos o céu! Luto por uma causa há quase uma ano, sem nunca desistir. Uma causa com altos e baixos, que muitas vezes quase me custou a vida. Mas durante este ano também aprendi muitas coisas e uma delas foi a não desistir por muito que nos pareça aliciante. Lutar e não desistir é a chave para alcançar um objectivo superior, independentemente do tempo que demoramos a alcança-lo. Mas ainda assim me questionei, pois por vezes tenho vontade de seguir o caminho mais fácil. Perguntando-me inúmeras vezes se valerá a pena...embora eu mesmo saiba que vale e que por muito pense faze-lo, em seguir o caminho mais fácil, não o farei, pois sei que não desistirei.
Querida Teresa, A adversidade faz parte do Caminho..."isso" eu já tinha percebido. Que nos torna mais fortes depois é bem verdade...mas enquanto percorremos este caminho é difícil e temos altos e baixos e pergunto-me às vezes "porquê" e não "para quê". É a tendência natural, acho, e depois faço um esforço para pensar que o dia tem que ser levado, um de cada vez. Obrigada Teresa pelo carinho, pela compreensão,pelas palavras, pelos silêncios...por tudo! Beijo da Nucha
Eu sei que já tinhas percebido Nucha. Também sei que quando vivemos momentos difíceis achamos que tudo isto que falei não passa de teoria muito bonita, mas que não passa disso mesmo. Um dia de cada vez, portanto. Acreditando que num novo dia, próximo ou não, seja possível encontrarmos o sentido e dá-lo à vida. Tenho a certeza de que o encontrarás. Com amizade
Olá Amiga Ao ler o teu post, lembrei-me da história de Budha(Sidharta), que viveu parte da sua vida rodeado de luxo, sem conhecer o sofrimento, porque o seu pai assim queria. Um dia, pela calada da noite resolveu fugir do palácio deparou-se com o sofrimento, a pobreza, a miséria e a falta de saúde. Resolveu retirar-se e meditar durante 21 dias até atingir um estado de iluminação e abertura de caminhos. A própria palavra Budha, quer dizer iluminnado. Sou uma acérrima seguidora da filosofia budista e em tempos frequentei um centro budista. A partir dessa altura, comecei a conviver a palavra sofrimento de uma outra forma. Hoje aceito e tento perceber o que tenho de aprender quando alguma adversidade me bate á porta. Aprendi a ser tolerante e a conviver com os que o não são. Tenho crescido e busco o aperfeiçoamento contínuo, porque sei que quanto melhor for nesta vida , mais fácil será viver a próxima. Os desafios permitem uma constante evolução. Fez todo o sentido o que escreveste, gostei imenso. Beijos Manu
Olá Manu Também me diz muito a filosofia budista. É aquela com que mais me identifico. Só a questão da perspectiva do desprendimento é que afasto um pouco. Associo-a (não sei se erradamente) a uma certa indiferença emocional - evitar a paixão. E preciso de me sentir apaixonada pela vida. Bem sei que as ligações produzem dor, mas são igualmente elas que nos dão as grandes alegrias. Prefiro sofrer e ter grandes alegrias. O que quero dizer é que a felicidade, para mim, não está só na quietude, no recolhimento, no interior (embora seja aí que ela se alicerça fundamentalmente), mas também na acção, no envolvimento apaixonado. Um equilíbrio difícil de conseguir, sem dúvida. Aliás, como tudo o que vale a pena, não é mesmo? Foi bom recordar aqui a história de Budha. A primeira vez que a li foi na minha adolescência no livro de Herman Hesse e foi marcante. Tão bom lê-la aqui nestas breves linhas e reforçar o sentimento de identificação que tenho consigo. Muito obrigada Manu! Boa semana para si.
Teresa: Aqui estou a vir "descansar" no teu blog e encontro (por assumida bisbilhotice!) esta conversa que me interessa... Sempre me atraiu o Budismo, mas a reencarnação continua a ser um terreno escorregadio também para mim... Por isso já fiz uma proposta à Manu (em comentário no blog Cantinho da Manu ): "Será que nos podes ir falando dele por aqui? É que perante a escassez de tempo para aprofundar tudo o que me desperta o coração e a mente, peço ajuda a quem já fez parte do caminho e pode indicar direcções.. Estou a abusar?" Acho que concordarás comigo ;)
E fizeste muito bem Marta. Tal como para ti a questão da reencarnação também permanece terreno escorregadio. Também estudei um pouco o budismo Mahayana e diz-me muito o caminho médio descoberto por Buda que evita os extremos: que dá visão, conhecimento e conduz à paz, à sabedoria, à iluminação e ao nirvaṇa; a disciplina moral como etapa preparatória para a prática espiritual, a disciplina mental ( o "nosso" yoga); a impermanência. Quanto às ligações aceito que sejam elas que nos conduzem ao sofrimento - "insatisfação [dukkha]: o nascimento nobre verdade do sofrimentento é sofrimento, a velhice é sofrimento, a doença é sofrimento, a morte é sofrimento; a união com o que é desagradável é sofrimento; a separação do que é agradável é sofrimento; não se conseguir o que se quer é sofrimento; em suma, os cinco agregados [skandha] que conduzem a uma ligação são sofrimento". No entanto, como disse à Manu, mesmo aceitando que que sejam as ligações que me trazem sofrimento preciso de me sentir vibrar e não sou feliz sem me sentir "ligada" ao mundo exterior. Seria bem mais simples, de facto, se eu me conseguisse "desligar" e não sei se estou a perspectivar esta questão da forma correcta. Por isso, seria muito bom que a Manu nos auxiliasse a encontrar, como dizes, as direcções neste nosso caminho. Ainda bem que lhe pediste. Imagino que estejas a descomprimir um pouco deste final de aulas. Eu estou e está a saber-me lindamente. Beijos
E fizeste muito bem Marta. Tal como para ti a questão da reencarnação também permanece terreno escorregadio. Também estudei um pouco o budismo Mahayana e diz-me muito o caminho médio descoberto por Buda que evita os extremos: que dá visão, conhecimento e conduz à paz, à sabedoria, à iluminação e ao nirvaṇa; a disciplina moral como etapa preparatória para a prática espiritual, a disciplina mental ( o "nosso" yoga); a impermanência. Quanto às ligações aceito que sejam elas que nos conduzem ao sofrimento - "insatisfação [dukkha]: o nascimento nobre verdade do sofrimentento é sofrimento, a velhice é sofrimento, a doença é sofrimento, a morte é sofrimento; a união com o que é desagradável é sofrimento; a separação do que é agradável é sofrimento; não se conseguir o que se quer é sofrimento; em suma, os cinco agregados [skandha] que conduzem a uma ligação são sofrimento". No entanto, como disse à Manu, mesmo aceitando que que sejam as ligações que me trazem sofrimento preciso de me sentir vibrar e não sou feliz sem me sentir "ligada" ao mundo exterior. Seria bem mais simples, de facto, se eu me conseguisse "desligar" e não sei se estou a perspectivar esta questão da forma correcta. Por isso, seria muito bom que a Manu nos auxiliasse a encontrar, como dizes, as direcções neste nosso caminho. Ainda bem que lhe pediste. Imagino que estejas a descomprimir um pouco deste final de aulas. Eu estou e está a saber-me lindamente. Beijos
Olá amiga, muito boa tarde. Queria te apresentar o SouVencedor.com, que é um projeto que tem o objetivo de motivar as pessoas e criar em todos um sentimento de conquista e vitória por meio da esperança independente do tamanho do desafio. O endereço é http://www.souvencedor.com. Um forte abraço.
Olá Edgar Muito bom receber a sua visita. Adoro conhecer novas pessoas e gostei muito de explorar o "Sou Vencedor". É muito importante haver espaços como o seu que nos motivem e façam acreditar que é possível, sim, apesar de tudo. Esse "sentimento vitorioso" que é transmitido e faz tanta falta em certas alturas da vida e a crença de que "mesmo ao passar pelas maiores adversidades desta vida, a esperança nunca deve ser abandonada, mas sim concentrada em quem sempre estará ao seu lado" fez-me fã do seu projecto. Muito bom! Obrigada por me ter dado a oportunidade de o conhecer. Vou acompanha-lo a partir de agora. Um abraço para si também