"One is the loneliest number that you'll ever do/ Two can be as bad as one, it's the loneliest number since the number one"
Oh, for the sake of momentum
I've allowed my fears
to get larger than life
And it's brought me to my current agendum
Whereupon I deny fulfillment has yet to arrive
Magnolia é um filme recheado de simbolismos e grandes metáforas. Vi-o quando estreou há dez anos, num período marcante da minha vida. Simultaneamente com a sua banda sonora descobri Aimee Mann, pois foi a partir das suas músicas que o roteiro de Magnolia nasceu. Neste filme acompanhamos um único dia da vida de vários personagens, cujas histórias se interligam a todo instante. E todos eles sofrem, menos pelos erros, mas mais pela falta do dom de perdoar. Tenho este filme em DVD e revi-o ontem. Tive vontade de fazer um post sobre ele, mas pensei que não caberia neste blogue. Depois, pensei melhor e constatei que Magnolia não é um filme sobre pecados, como muitos o rotularam. É, ao contrário, um filme sobre perdão. E… A capacidade de perdoar é fundamental no caminho da felicidade. Não podemos ser felizes com sentimentos de ódio, vingança, ou rancor. Nem se trata de uma questão moral, mas do nosso sofrimento interior. Perdoar é trabalhar para nos fazer bem.
“Assim que uma pessoa investe toda a sua energia psíquica numa interacção – seja com outra pessoa, um barco, uma montanha ou uma música – ela faz parte de um sistema de acção que ultrapassa as fronteiras do seu ser.”
Mihaly Csikszentmihalyi
Encontrar o nosso “apelo” (“calling”) interno é, segundo M. Csikszentmihalyi, um dos factores determinantes do nosso bem-estar. Quando o encontramos, entramos em sintonia connosco próprios e “fluímos” criativamente. É justamente ao estado de imersão total numa tarefa desafiadora que M. Csikszentmihalyi denomina “fluxo” (“experiência óptima”) o qual acontece, por exemplo, quando esquiamos, nadamos, conversamos com amigos, cantamos num coro, dançamos, pintamos, escrevemos… No fluxo, a alienação dá lugar ao envolvimento, o encantamento substitui o aborrecimento, o sentimento de resignação é substituído pelo de controle.
As suas chaves são: Existência de um desafio claro que concentra completamente a nossa atenção; termos capacidade para responder a esse desafio e recebermos um feedback imediato em relação à maneira como estamos a sair-nos em cada passo da nossa actividade (recebemos um sentimento positivo depois de cada nota correctamente cantada, de cada pincelada dada).
Assim, quando escolhemos algo em que nos investimos na medida das nossas capacidades e da nossa concentração, algo que nos desafia e nos envolve, damo-nos a possibilidade de viver experiências verdadeiramente gratificantes.
Qualquer um de nós, seja qual for o seu talento, pode subir mais alto. A alegria de mergulhar na vida é acessível a todos.
Soube-me bem: Recordar Georges Moustaki
Agradeço: O “eterno presente” da música.
“Tudo coexiste numa relação infinita de causa e efeito. Na música passa-se exactamente o mesmo. Talvez com mais intensidade ainda. Porque a música é um entrelaçar de sons que nos remete directamente para a origem do mundo (…) A música provém da aurora do mundo. Ao mesmo tempo é um eterno presente (…) Passado, presente e futuro encontram-se nela, numa clara forma de eternidade.”
Seiji Ozawa
PROPONHO PARA REFLEXÃO
O que o/a faz fluir? Conhece bem as suas potencialidades? Se as conhecer e fizer uma lista de actividades em que lhes seja dado uso (ajudar amigos, dançar, escrever, ouvir, cozinhar) poderá tomar uma maior consciência daquilo que lhe proporciona bem-estar e, por conseguinte, aumentar a sua gratificação diária com a vida.
"Entre os gestos do mundo
Aceitei a dádiva das portas.
Vi-as na luz
Seladas, entreabertas
Virando as suas costas
Cor de raposa
Porque as fizemos
Se nos tornam prisioneiros?"
Gabriela Mistral
"A felicidade consegue-se quando o que pensamos, dizemos e o que fazemos está em harmonia." (Gandhi) - Chama-se a isto coerência.
Estar de acordo connosco próprios implica a capacidade de nos afirmarmos e agir conforme aquilo que pensamos ser justo, bom para nós e para os outros: Exprime esse sentimento de bem-estar que se consubstancia num actuar de acordo com os nossos valores pessoais, com as nossas convicções.
Não trair, não fugir às responsabilidades, ir ao encontro de alguém que está necessitado… Estes são alguns dos valores essenciais que nos ajudam a sentir integrados quando os respeitamos; valores morais que escolhemos, mais ou menos conscientemente, para sermos melhores seres humanos. Embora os ideais variem para cada um de nós, acabam por se basear na fidelidade, lealdade às nossas ideias, amizades e amores.
A coerência connosco implica saber dizer “não”, desvincular-se de projecções/ expectativas parentais e normas sociais, respeitar a singularidade, decepcionar às vezes, saber enfrentar riscos, procurar aquilo que se esconde atrás dos nossos medos e inibições, “sermos nós”.
Há que lembrar que viver esta coerência não significa, forçosamente, viver em harmonia permanente – a coerência interna é um movimento, não um estado. É aceitar a complexidade, às vezes desconfortável, da nossa humanidade, as nossas contradições internas. E ao deixar emergir os nossos valores essenciais, autorizando-nos a vivê-los sem medo de julgamentos, encontraremos uma alegria interior profunda: O bem-estar do nosso equilíbrio emocional, a felicidade de nos sentirmos bem na nossa pele.
Fonte: Psychologies, nº 295
Soube-me bem: Ouvir Norah Jones.
Agradeço: A minha autonomia interior.
PROPONHO PARA REFLEXÃO
A partir de uma lista de momentos da sua vida em que se sentiu bem interiormente tente encontrar um ou mais aspectos comuns (silêncio, contacto com amigos ou com a natureza…). Construa o seu “bilhete de identidade” interior, o qual o/a ajudará a actuar, no seu quotidiano, mais de acordo com as suas necessidades pessoais, com o seu ser profundo.
“O homem pode ser desapossado de tudo excepto de uma coisa: A última das liberdades humanas, a liberdade de escolher a atitude que adopta ante qualquer conjunto de circunstâncias e de escolher o seu próprio caminho.”
Victor Frankl
“Acredito verdadeiramente que é possível criar, mesmo sem jamais ter escrito uma palavra ou pintado um quadro, apenas moldando a nossa vida interior. E isso também é uma proeza.”
Etty Hillesum
A interligação entre tudo e todos cuja manifestação já referi, noutras ocasiões, revelar-se de uma forma nítida na blogosfera, esteve mais uma vez presente, para mim, no dia em que a minha amiga Marta escreveu o seu excelente post "Será este o segredo?" É que este post foi de encontro, de uma outra forma, ao que li, logo em seguida, num livro (Ecologia emocional) que comprara dois dias antes. E o que li relatava um episódio da vida de um colunista americano que acompanhara um amigo a um quiosque para comprar o jornal. O amigo cumprimentara amavelmente o vendedor, mas este respondera com modos bruscos, atirando o jornal sem qualquer consideração. Apesar da antipatia do vendedor o amigo do colunista sorrira e calmamente lhe desejara bom fim-de-semana. Estranhando como é que o seu amigo conseguia mostrar-se sempre educado e amável perante a antipatia do vendedor, logo teve a resposta:
- Eu não quero que seja ele quem decide a maneira como EU me comporto.
As condições exteriores têm uma influência importante nas nossas vidas, mas não são elas que nos determinam. Não fomos nós que escolhemos a família que nos iria acolher, o ambiente que nos iria rodear, os recursos a que teríamos acesso. Mas somos nós que escolhemos a atitude e o comportamento a adoptar perante as nossas circunstâncias. É essa a nossa liberdade, é essa a nossa grande riqueza. O nível de paz estrutural atingido pelo monge budista Matthieu Ricard “que nenhuma conjuntura desfavorável consegue subverter totalmente” é uma prova eloquente da nossa magnificência interior.
· SER: A forma de felicidade em que é suficiente abrir os olhos, regozijar-se de estar lá, sentir-se, simplesmente existir.
· TER: A felicidade de possuir um livro, um objecto de que se gosta, mas também viver num lugar que se aprecia, de ter um aconchego no inverno, uma luz na noite.
· FAZER: A felicidade de andar, trabalhar, falar com os amigos, imaginar, criar, fabricar, reparar.
· PERTENCER: É a felicidade de viver no seio de uma família, trabalhar no seio de um grupo que nos estima, ser amado numa comunidade de amigos.
Quatro famílias de felicidade tão simples e elementares que as esquecemos facilmente. Há que abrir regularmente os olhos sobre elas, saboreá-las, preservá-las, fazê-las viver e reviver, multiplicá-las.
Adaptado de “Vivre Heureux”
Soube-me bem: Ler Ernesto Sabato
“Um luxo verdadeiro é um encontro humano, um momento de silêncio perante a criação, o gozo de uma obra de arte ou de um trabalho bem feito. Gozos verdadeiros são aqueles que embargam a alma de gratidão e nos predispõem ao amor.”
Agradeço: As palavras que me tocam, a música que me preenche, o silêncio que me acompanha, as obras de arte que contemplo, os lugares que me envolvem, a casa que me acolhe, os gestos que me sensibilizam, os encontros que me enriquecem, os mimos que me dão. Hoje agradeço especialmente o prémio com que a minha amiga Marta também me mimou. domeulugar.blogs.sapo.pt/13810.html
PROPONHO PARA REFLEXÃO
Em que parâmetros baseia o seu índice de felicidade interna bruta? Como pode melhorá-lo?
“Às vezes, assalta-nos esta interrogação: O que é que não fizemos? Dito por outras palavras, periodicamente reavaliamos as nossas vidas, com o sentimento de que há alguma coisa que nos falta, que nos escapa. Pouco importa a idade que temos, velhos ou novos, cada um se pergunta a si próprio: Não haverá nada melhor? Algo como uma segunda oportunidade? Eis algumas das questões tratadas de forma simples, mas profunda pelo realizador asiático, Edward Yang, no filme Yi Yi."”
As palavras acima foram transcritas de um trabalho feito pela minha amiga Lúcia que escolheu o filme YI-Yi como seu objecto de reflexão. Este título traduzido literalmente significa “Um Um”: Cada um tem de fazer o seu percurso individualmente. Um filme que, para mim, adquiriu um encanto especial depois de vê-lo sob um outro olhar, um olhar que o tornou mais rico e me enriqueceu.
“Chamamos cultura da pausa à tradição oriental de dar importância aos silêncios na comunicação, às margens na pintura, aos vãos livres na arquitectura, ao não dito na mensagem e à receptividade na contemplação (…)
Não se vê melhor a Lua – diz-se na tradição zen – agitando a água no charco, mas deixando que fique quieto e sedimente. A verdade sobre nós mesmos é-nos dada como um presente quando a deixamos aparecer. E esta verdade sobre nós mesmos é, ao mesmo tempo, a verdade sobre tudo e sobre o todo. Mas é preciso deixar que a água embora turva, fique parada para reflectir como um espelho.”
Juan Masiá
Silêncio, contemplação, receptividade, quietude, recolhimento. PARAR.
“O que mais dói quando estamos tristes não é sentir a dor, mas o medo de se ficar para sempre abandonado à tristeza solta em nós, como se ela fosse um idioma estranho que ninguém entendesse (…)
Quando estamos tristes “amanhã é sempre longe demais” porque a dor precisa de boas estrelas que transformem o escuro do sofrimento onde estamos perdidos, na luz dos sonhos em que nos podemos encontrar.”
Eduardo de Sá
Tenho andado meio triste, nestes últimos dias. Mas ontem, assim de uma assentada, surgiram cinco boas estrelas que iluminaram os meus sonhos e fizeram com que a minha tristeza deixasse de ser um idioma estranho.
Soube-me bem: As palavras que recebi no dia de ontem.
Foi inspirador: Folhear agendas antigas.
Agradeço: O mimo e ajuda da Joana. A Joana brindou-me com o prémio "Selinho blog perfeitinho" que tem regras e eu ainda não sei exactamente como funcionam, mas vou tentar segui-las o melhor que posso:
1. O link de quem indicou: caminhoparaaliberdade.blogs.sapo.pt/
(aqui não sei se é suposto indicar o link original - Sheila, Margarida e Just moments).
2. Postar o selo:
3. Passar o selo a 5 blogs perfeitos: Às minhas amigas Joana (caminhoparaaliberdade.blogs.sapo.pt/30696.html), Marta (domeulugar.blogs.sapo.pt/7752.html), Nucha (treschavenasdecha.blogs.sapo.pt/58106.html), ao meu filho Afonso (quandodeusdeixoudeolhar.blogs.sapo.pt/11200.html, a quem agora posso retribuir, e ao meu amigo Trino a ver, também, se é um estímulo para ele voltar a escrever - trinofernando.blogspot.com/
Mania – Beber leite com chocolate à noite.
Pecado capital – Preguiça.
Melhor cheiro do mundo – Maresia.
Se o dinheiro não constituísse problema – Comprava uma casa na praia.
História de Infância – Ter-me perdido na Costa da Caparica quando tinha três anos. Fui encontrada muitas horas depois do meu desaparecimento.
Habilidade como dona de casa – ?
O que não gosto de fazer em casa – Não gosto de fazer qualquer tipo de tarefa doméstica.
Frase preferida – "Nascemos neste mundo, devemos viver para este mundo, tratar de o melhorar e é tudo."
Passeio para o corpo –Passeio à beira-mar.
O que me irrita – Injustiça, fundamentalismos, pessoas mal-formadas.
Talento oculto – ?
Frases ou palavras que uso frequentemente – "De facto..."
Palavrão mais usado – M...
Não importa que seja moda, eu não usaria nunca – Roupas desconfortáveis, sapatos de salto alto.
Queria ter nascido a saber – Não me deixar afectar por pessoas negativas. Ainda não aprendi.
"O meu compromisso com a vida consiste em fazer com que o meu tempo, o tempo que me está reservado, reverta nas pessoas que amo através do tempo que lhes dedico. Perder o tempo é desperdiçar a minha capacidade de dar-me aos demais. Quando dou o meu tempo aos demais, quando lhes dedico o meu tempo, o meu tempo é infinito e a minha vida perdura ao longo do tempo."
Ricardo Ros
Soube-me bem: Sentar-me no banco do jardim perto da minha casa e misturar-me com o nevoeiro.
Foi inspirador: Verdi.
Agradeço: A beleza do nevoeiro, das neblinas, das brumas.
Envelhecer é um processo inexorável, mas em cujo ritmo e forma se pode intervir. Como nos diz João Lobo Antunes “as limitações da idade ou as dificuldades que experimentamos com o tempo são influenciadas pelas oportunidades que tivemos de interagir com outros, por novas experiências económicas e educativas, pela exposição ao stress físico ou social e pelos sucessos que vamos colhendo ao longo da vida.”
Envelhecer bem é um processo que se aprende e prepara desde a mais tenra idade. Manter a curiosidade, viver intensamente cada momento que passa, enriquecer interesses, cultivar o bom humor, praticar exercício físico, fazer uma alimentação equilibrada, treinar a memória, investir nas relações de amizade, planear, estabelecer objectivos (as metas dão sentido à vida) são factores – chave para uma longevidade saudável.
A sensação de finitude impede-nos de perder tempo. Este vale agora mais e reclama contra o desperdício.
Acredito que na sociedade do futuro os idosos voltarão a ser um valor de sabedoria e apaziguamento. “Viver-se-á mais devagar para se existir mais profundamente" como diz Fernando Dacosta.
Uma longevidade saudável é possível como um legado de esperança.
Soube-me bem: O curso que iniciei ontem no Museu do Oriente. Aprender, aprender sempre, é das coisas que me dá maior bem estar.
Foi inspirador: O post da Joana "Envelhecer com um sorriso" - caminhoparaaliberdade.blogs.sapo.pt/28393.html - foi ele que inspirou o meu post de hoje.
Agradeço: Tudo o que me tem sido ensinado, todas as oportunidades de aprendizagem.