“Qualquer que seja a extensão do período de vida plena, gozada em completude de aptidões e capacidades, a verdade é que, como reconheceu Trotsky, a velhice é a coisa mais inesperada que nos acontece e, acrescentaria eu, nunca é fácil. Bette Davies dizia que “envelhecer não é para gente fraca.”
A velhice surge muitas vezes sorrateira, pé ante pé, e, subitamente, uma mirada de relance ao espelho, uma fotografia tirada à socapa ou a indiscrição de um “vídeo” revelam-nos os estragos do tempo, a articulação perra, o porte alquebrado, a expressão consumida, como lamentou Nemésio. Outras vezes, instala-se de forma brutal, como uma doença súbita, devastadora, frequentemente como consequência de um cataclismo emocional, que se abate sobre nós com o peso de um século (...)
A verdade é que, inevitavelmente, a expressão limitações da idade tem um sentido negativo, de perda, de progressivo cataclismo social. Por seu lado, limite de idade, tem uma imediata ressonância burocrática de imposição legal, de cessação de funções, de passagem à reforma. É curioso como a expressão reforma sugere a criação de uma outra forma, uma outra encarnação funcional, e na verdade os mais felizes nesse tempo são aqueles que de facto se re-formam.
O termo jubilação que se aplica a professores universitários e juízes, supõe alegria, que terá como dupla o consolo de chegar ao fim com a tranquilidade do dever cumprido e a alvorada de uma nova época em que, finalmente, se consegue fazer o que nunca fora possível antes. (…)
Há alterações qualitativas curiosíssimas que permitem olhar a velhice com optimismo. De facto, sabe-se hoje, desmentindo a noção clássica da invariabilidade do número de células nervosas, que a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade de gerar novas células e estabelecer novas conexões nervosas, está presente em toda a vida. Esta capacidade de renovação depende em parte do grau de educação e da persistência em actividades mentais complexas.(…)
Como nota Baltes, há nos velhos um pragmatismo cristalizado, um apuramento da inteligência emocional e da sabedoria, atingindo muitas vezes o cume da excelência humana. Mesmo quando as capacidades declinam, desenvolve-se o que se chama “autoplasticidade adaptativa”, que conduz a uma optimização selectiva como compensação. (…) Aqueles que aplicam selecção, optimização e compensação como estratégias comportamentais sentem-se melhor com eles próprios. (…)
Uma outra descoberta das neurociências relativamente à memória é para mim fascinante. Embora a memória decline com a idade, os velhos retêm melhor as recordações que estão ligadas a experiências emocionalmente positivas que negativas, revelando assim uma espécie de sabedoria emocional. (…)
Quando o horizonte temporal parece encurtar-se, os objectivos orientam-se mais para o bem-estar psicológico e para aquilo que encerra valores emocionais positivos.”
Eco silencioso, João Lobo Antunes
Do livro "20 passos para a felicidade" de Jorge Bucay, eis "O enigma do bandido":
“Imagine que existe um banco que todas as manhãs credita na sua conta a avultada quantia de 86 400 euros. Nem mais, nem menos: 86 400 euros diários para seu usufruto, sem que ninguém lhe peça explicações, ou lhe exija que preste contas; 86 400 euros livres de impostos e para seu uso pessoal.
Imagine que a única restrição da conta bancária que lhe foi atribuída é o facto de, por uma incapacidade do sistema ou por uma decisão do donatário, não manter os saldos de um dia para o outro.
Todas as noites, ao bater da meia-noite, como acontecia com a carruagem da Cinderela, que se transformava de novo numa abóbora a conta bancária elimina automaticamente a quantia que tinha no seu saldo. Mais grave ainda, também se desvanece cada euro levantado da conta que não tenha sido gasto ao longo do dia.
Se não perder uma parte do saldo, fica-lhe o consolo de, no dia seguinte, lhe serem depositados novamente mais 86 400 euros, que poderá gastar como lhe aprouver. No entanto, não pode sentir-se demasiado seguro, porque não sabe durante quanto tempo se manterá esta dádiva.
Que atitude tomaria?
Certamente gastaria todos os euros e desfrutaria desse dinheiro com quem quisesse, claro.
-Cada um de nós – disse eu a Ricardo – possui essa conta e essa dádiva.
Todos os dias o banco do tempo coloca à nossa disposição 86 400 segundos e todas as noites o banco apaga o saldo e considera-o perdido.
O banco não aceita cheques pré-datados nem permite contas a descoberto.
Se não usarmos o depósito do dia, quem perde somos nós.”
Termino com as palavras do post de hoje do docerefugio.blogs.sapo.pt/:
"Que façamos de cada dia da nossa efémera existência uma vitória!"
Soube-me bem: O reenvio do e-mail do "Principezinho - pedacinhos" acompanhado destas palavras da minha amiga Eduarda:
Há amizades feitas de distância
Que mesmo longe nos fazem rir ou chorar
Cada palavra ganha importância
Cada email pode algo transformar…
Pois apesar da distância se manter
Há alguém que de nós se está a lembrar.
Foi inspirador: Ler o post do "Doce Refúgio". Foi ele que me levou ao post de hoje.
Agradeço: À Nucha (http://treschavenasdecha.blogs.sapo.pt/) e Sheila (docerefugio.blogs.sapo.pt/) fazerem-me lembrar que:
Existir é celebrar a mágica oportunidade de viver a vida como um presente.
“É isso, a eternidade: o que vem de trás, os pedaços de pessoas que emergem naquela que está agora à nossa frente, através de códigos pré-definidos e em tudo aquilo que passa de mãe e pai para os filhos.
A eternidade não é mais que a continuidade das pessoas nas outras”
Catarina Campos
Nesta etapa da vida tenho-me lembrado muito de umas palavras da Faíza Hayat:
Não me importaria de atravessar o Outono, inclusive o Inverno se soubesse que depois viria a Primavera e finalmente - outra vez! – o grande sol de Verão. O que me perturba é a certeza de não haver uma outra Primavera, um outro Verão.”
Soube-me bem: Ir ao CCB.
Foi inspirador: Ver o filme UP. Vale cada palavra que a Marta tão bem conseguiu expressar no seu blog http://domeulugar.blogs.sapo.pt/
Agradeço: Os parabéns atrasados da Joana.
"A Arte é um refúgio onde o espírito voa."
Gao Xingjiang
No seu livro "L`art du bonheur" Christophe André diz-nos que a contemplação da tela de um mestre é, em si, uma experiência de felicidade. Foi o que senti hoje ao contemplar as telas de Gao Xingjiang no Museu de Arte Moderna em Sintra. A pintura de Gao Xingjiang vai além da técnica tradicional chinesa de xieyi ("pintura do sentimento" ou "escrita do espírito"), pois conduz-nos à reflexão e faz-nos pensar profundamente. Uma pintura que, em silêncio, nos habita.
Gao Xingjiang é pintor, escritor e cineasta. Como se pode ler no catálogo da exposição "As profundidades e perspectivas dão vida a uma paisagem interior tão profunda que o observador se pode perder nela e, por sua vez, encontrar-se. Com Gao, a sobriedade da tinta-da-china eclode numa explosão de luz que desvenda as verdades que importam ao homem, mantendo-se, porém, o enigma inerente à arte."
Sem dúvida que este pintor "consegue penetrar o nosso "eu" mais profundo, até ao ponto de nos interrogarmos se não terá habitado em nós desde sempre."
Foi o refúgio onde voei.
Soube-me bem: A ida a Sintra.
Foi inspirador: Ver a exposição "Depois do dilúvio".
Agradeço: À blogosfera terapêutica.
"Deitei-me àquela sombra, e, em mim, senti
A terra em flor e o céu todo estrelado."
Teixeira de Pascoaes
Soube-me bem: A surpresa acarinhadora dos meus filhos nesta manhâ.
Foi inspirador: Ir ver a exposição de Júlio Pomar no Centro de Arte Manuel de Brito em Algés.
Agradeço: As maiores dádivas da minha existência: A Mãe que tive e os filhos que tenho.