“Creio que a amizade, como o amor do qual ela participa, exige quase tanta arte como uma figura de dança bem conseguida. É preciso muito entusiasmo e muita contenção, muitas trocas de palavras e muitos silêncios. E sobretudo, muito respeito – esse sentimento da liberdade dos outros, da dignidade dos outros, a aceitação sem ilusões, mas também sem a menor hostilidade ou o menor desprezo por um ser tal como ele é.”
Marguerite Yourcenar
A amizade que nos ilumina é a que compreende que o amigo é livre para fazer e ser. Por vezes, quando nos sentimos inseguros procuramos a segurança no exterior agarrando-nos à pessoa mais próxima como se de uma muleta se tratasse. Devemos lembrar-nos sempre que ninguém é nossa propriedade. Há relações que morrem por asfixia. O caminho da amizade é um caminho de respeito e liberdade.
Deixo uma história já bem conhecida, mas que gosto muito de relembrar.
“Certo dia, um rapaz de 13 anos passeava pela praia com a mãe. A dado momento, olhou para ela com insistência e perguntou:
- Mamã, o que poderei fazer para conservar um amigo que tive muita sorte em encontrar?
A mãe pensou durante alguns momentos, inclinou-se e recolheu um pouco de areia com as mãos. Com as palmas viradas para cima, apertou um punho com força. A areia escapou-se entre os dedos. E quanto mais apertava o punho, mais a areia escapava. A outra mão, pelo contrário permanecia bem aberta: Nela a areia que tinha apanhado mantinha-se intacta.
O rapaz observou maravilhado o exemplo que a mãe lhe dava, compreendendo que apenas com abertura e liberdade se pode manter uma amizade e que o facto de tentar retê-la ou encerrá-la significa perdê-la.”
Soube-me bem: Ver este vídeo
Ouvir e recordar Nina Simone
Agradeço: A liberdade da amizade.
PROPONHO PARA REFLEXÃO
Estas palavras de Francesco Alberoni:
“Nenhuma forma de amor tem tanto respeito pela liberdade do outro como a amizade.Esta chega a pontos de extrema delicadeza. Por exemplo, se um amigo fez qualquer coisa por nós, qualquer coisa que tenha sido útil, ficar-lhe-emos reconhecidos, mas evitaremos perguntar-lhe porque o fez. O amigo não me deve dar explicações. É perfeitamente correcto que eu não as procure. Não devo analisar o seu comportamento, tentar encontrar as suas motivações. O acto do amigo deve manter-se, até ao mais profundo, um acto livre. Se eu procurar explicações, posso sempre encontrar uma razão, uma justificação, um interesse. (…) O acto apenas é livre antes de ser completado. Até ao ultimo momento podemos faze-lo, ou não, e ninguém sabe aquilo que escolheremos. Por isso, não nos interroguemos sobre porque é que o amigo agiu assim. Porque nós queremos sempre considerá-lo livre, no acto criador de vida, quando tudo era possível, e ele livremente escolheu assim."
"One is the loneliest number that you'll ever do/ Two can be as bad as one, it's the loneliest number since the number one"
Oh, for the sake of momentum
I've allowed my fears
to get larger than life
And it's brought me to my current agendum
Whereupon I deny fulfillment has yet to arrive
Magnolia é um filme recheado de simbolismos e grandes metáforas. Vi-o quando estreou há dez anos, num período marcante da minha vida. Simultaneamente com a sua banda sonora descobri Aimee Mann, pois foi a partir das suas músicas que o roteiro de Magnolia nasceu. Neste filme acompanhamos um único dia da vida de vários personagens, cujas histórias se interligam a todo instante. E todos eles sofrem, menos pelos erros, mas mais pela falta do dom de perdoar. Tenho este filme em DVD e revi-o ontem. Tive vontade de fazer um post sobre ele, mas pensei que não caberia neste blogue. Depois, pensei melhor e constatei que Magnolia não é um filme sobre pecados, como muitos o rotularam. É, ao contrário, um filme sobre perdão. E… A capacidade de perdoar é fundamental no caminho da felicidade. Não podemos ser felizes com sentimentos de ódio, vingança, ou rancor. Nem se trata de uma questão moral, mas do nosso sofrimento interior. Perdoar é trabalhar para nos fazer bem.