“Ser gentil torna-me feliz e estar feliz torna-me gentil.
Leonardo Boff
Ontem cheguei a casa com uma sensação de mal-estar que achava ser fruto de circunstâncias exteriores. Depois pensei um pouco melhor e concluí que não era do exterior, mas sim do meu interior, da forma intempestiva como tinha reagido a factores externos. Sinto que uma grande aprendizagem ainda tem de ser feita por mim e este ano está a proporcionar-me muitas oportunidades de a fazer. Uma aprendizagem que diz respeito, sobretudo, à gentileza. Creio que a maioria das pessoas que me conhece me considera gentil, mas tenho a consciência de que um grande trabalho ainda tenho de fazer para o ser realmente.
O meu mal-estar de ontem era fruto da culpabilidade que sentia pela minha reacção agressiva tida nessa a manhã. Sei-o agora, com maior consciência, que acabei de ler os artigos relativos ao lançamento, pela revista Psychologies, do “Dia da Gentileza” em França – talvez não fosse má ideia fazê-lo em Portugal também.
Parece que no mundo competitivo em que vivemos – em que dominam as relações de força – a “gentileza” não tem uma conotação lá muito positiva, sendo associada, de alguma forma, a uma fraqueza. E, no entanto, a gentileza é a nossa “ecologia relacional”. Ela existe em todos nós, bastando um pequeno gesto para que contagie todos os que nos rodeiam. Começa no berço em que basta a um bebé ouvir o choro de outro para empaticamente começar a chorar também. Depois, na infância em que as crianças que se mostram gentis e atentas aos outros são mais apreciadas e têm melhores resultados escolares (um estudo feito em crianças com dificuldades escolares mostrou que aquelas que se voluntariavam para ajudar as outras a fazer os trabalhos melhoravam os seus resultados). E depois, todos os pequenos gestos que possamos ter, desde o sorriso ao desconhecido que vai connosco no elevador, à flor que podemos oferecer a quem nos atende no supermercado, ajudam a construir um futuro mais humano e solidário. Bastam pequenas atenções quotidianas para que cada dia nos traga uma alegria gentil.
Soube-me bem: Explorar o sitewww.worldkindness.org.sg/
Foi inspirador: Pensar na gentileza como filosofia de vida.
Agradeço: Tudo o que me tem sido gentilmente oferecido.
“O dia mais mal gasto de todos é aquele em que não nos rimos”
S. Chamfort
“O riso é o caminho mais directo entre duas pessoas.”
O humor torna-nos a vida mais fácil. Está provado que quem ri é mais produtivo, mais criativo, mais comunicativo, toma decisões mais rapidamente e não tem tanta propensão para a doença, pois o riso fortifica o sistema imunológico e liberta endorfinas que combatem a dor. Um minuto de riso equivale a cinco de relaxamento e dez minutos de riso incontido baixam as dores físicas durante, pelo menos, duas horas.
Como nos diz Helena Marujo: Com humor a comunicação melhora, a aceitação mútua cresce, a frustração tem um encaminhamento mais adequado.
Não há dúvida que, mesmo entre estranhos, uma gargalhada em conjunto abre as portas do entendimento.
Vale a pena adicionar algumas boas gargalhadas ao que fazemos quotidianamente e encarar a vida com mais humor.
Soube-me bem: As boas gargalhadas que dei com um colega.
Foi inspirador: Lembrar-me de C. Chaplin
“A alegria é o sentimento mais solidário que conheço. Quem está alegre nunca está só. Tem pensamentos de companhia, que transbordam as dimensões meramente individuais e se comunicam a tudo o que nos rodeia: Às flores, aos pássaros e, sobretudo, às pessoas, que, quando não estão doentes ou deprimidas, gostam muito de partilhar este sentimento.”
Ao contrário da tristeza a alegria abre-nos ao mundo e faz-nos sentir realmente vivos. É a essência da vitalidade, o sol da nossa vida.
Soube-me bem: Ouvir Diana Krall
Foi inspirador: Sentir-me alegre.
Agradeço: Poder partilhar a minha alegria com todos os que me lêem.
“Um texto antigo chamado Avatamsaka Sutra descreve o universo como uma rede infinita gerada pelo desejo de Indra, uma divindade hindu. Em cada conexão dessa rede infinita há uma jóia maravilhosamente polida e infinitamente facetada, que reflecte, em cada uma de suas faces, todas as faces de todas as outras jóias da rede. Uma vez que a própria rede, o número de jóias e o número de faces de cada jóia são infinitos, o número de reflexões também é infinito. Quando qualquer jóia nessa rede infinita é alterada de qualquer forma, todas as outras jóias na rede também mudam.
A história da rede de Indra é uma explicação poética para as conexões algumas vezes misteriosas que observamos entre eventos aparentemente não-relacionados. [...] À primeira vista, experiências envolvendo partículas subatómicas conduzidos ao longo de algumas décadas sugerem que tudo o que foi conectado num momento retém essa conexão para sempre.”
Yongey Mingyur Rinpoche, A alegria de viver
Por coincidência, ou não, comprei o novo livro de Daniel Goleman, Ecointeligência, no dia em que a minha amiga Marta escreveu o seu post intitulado "O impacto nos outros" domeulugar.blogs.sapo.pt/8933.html . Só pretendia falar deste livro quando finalizasse a sua leitura, mas depois de ver o post da Marta sinto que não posso deixar de o fazer agora que o iniciei. É que, logo no começo, Daniel Goleman fala-nos na rede de Indra como a imagem da teia infinita de interligações tanto nos sistemas da natureza como nos sistemas industriais. A indústria pode e deve ser encarada como uma espécie de ecossistema com efeitos profundos em todos os sistemas ecológicos.
A rede de Indra recorda-nos que todas as fases de fabrico de um bem apresentam impactos adversos sobre os sistemas naturais. “Nada produzido industrialmente pode ser totalmente ecológico, apenas relativamente ecológico.” Os verdadeiros impactos daquilo que compramos têm sido ignorados no que respeita à maioria dos produtos. Um exemplo será o da T-shirt que D. Goldman comprou com os dizeres: “100% algodão biológico: Faz um Mundo de Diferença”. Sem dúvida, que existem os benefícios da não utilização de pesticidas no algodão biológico, mas omite-se que são precisos dois mil e setecentos litros de água para produzir o algodão de uma T-shirt. O mar de Aral evaporou-se, ficando, no seu lugar, um deserto, em grande parte, devido às necessidades de irrigação das plantações de algodão da região.
Tudo o que é artificial tem incontáveis consequências e acabámos por estabelecer um padrão muito baixo para os produtos ditos ecológicos, pois fixámo-nos numa dimensão única, ignorando múltiplos impactos adversos.
“O ecológico é um processo, não é um estado – temos de pensar no “ecológico” como um verbo e não um adjectivo.” Devemos entender mais profundamente os impactos daquilo que compramos para orientar as nossas escolhas. Quando pudermos fazer opções com base em informações completas, aumentando a nossa inteligência ecológica, será possível, aí sim, caminhar em direcção “ a um destino ecologicamente sustentável e socialmente justo.”
Soube-me bem: O passeio que dei há pouco.
Foi inspirador: Começar a ler o livro de Daniel Goleman.
Agradeço: As estrelas no céu.
Eis um excerto do post de hoje do blog: fernandonobre.blogs.sapo.pt/
“Hoje sei (é das poucas certezas que tenho nesta fase outonal da minha passagem terrena) que a razão de ser da minha existência é - sortudo que fui em nascer com o acesso ilimitado à cultura, ao conhecimento e aos outros povos – a de tentar dar o meu contributo para que os meus irmãos do mundo sofram menos e para que todos eles, assim como a minha mulher, meus filhos, familiares e amigos possam viver com dignidade e, se possível, contribuir um pouco para a sua felicidade (...)
Membro de uma cadeia fraterna sem fim, vinda de nenhures e a caminho da sua total plenitude e harmonia, eu, poeira infinitérrima, sou insubstituível, como todos vós, porque sou único e parcela dessa entidade que se convencionou apelidar de Deus ou de outros milhares de nomes. Sem mim, sem vós, sem todos nós em união, esse Deus está incompleto e possivelmente ferido de morte.
Para mim, é esse o sentido da Espiritualidade. Sem essa Força que move montanhas, continentes, planetas e galáxias, nada seria possível! Só Ela permitirá que ultrapassemos os nossos mortíferos egoísmo, indiferença, intolerância e ganância que tantos genocídios tem praticado entre nós, fazendo-nos compreender o seu completo “não senso”.”
A espiritualidade é o olhar mais amplo que nos revela a totalidade do que somos, na nossa essência e numa dimensão maior que nós. Benjamin Spock observava que grande parte dos nossos problemas vem da falta de coisas simples como da generosidade, da entreajuda, de sabermos como o que fazemos pode ser útil para os outros. Cabe a cada um de nós determinar como pode a nossa espiritualidade pessoal guiar-nos em direcção ao contentamento, ao carinho e à partilha.
Soube-me bem: Ouvir Pachelbel.
Foi inspirador: Explorar o site que a minha amiga Nucha me indicou www.duartelima.com/alinhadohorizonte/e, logo a seguir, ler as palavras de Fernando Nobre.
Agradeço: A relação profunda com o divino que nos habita.
“O pessimismo é do humor, o optimismo da vontade."
É sempre mais fácil deixarmo-nos afundar no sentimento da infelicidade do que lutar contra ele. Inversamente, fazer durar o bem-estar requer mais esforço.
Segundo Christophe André a própria evolução do ser humano parece ter favorecido a existência de um grande número de emoções negativas cuja função é a de aumentar as probabilidades de sobrevivência da espécie. Assim, a ansiedade torna-nos vigilantes aos problemas, o medo favorece a fuga ou o combate, a cólera intimida os adversários, a tristeza atrai a compaixão e solidariza o grupo, etc.
O espectro de emoções e humores positivos é bem mais restrito, de acesso mais difícil. Sentir-se bem é uma espécie de luxo que a evolução, que se preocupa com a sobrevivência das espécies e não com o conforto dos indivíduos, não previu para nós. É por isso que é preciso “trabalhar” para ser feliz.
Não lutar contra a infelicidade:
Ø Prolonga a duração do mal-estar, pois este alimenta-se dele próprio – mais me deixo ir, mais prolongo a duração.
Ø Favorece o retorno do sentimento da infeliciddade.
É mais fácil melhorar o nosso humor agindo do que reflectindo. O objectivo das actividades agradáveis, nestas alturas em que nos sentimos infelizes, é o de impedir que o mal-estar se instale e agrave. Ver um filme cómico e colocarmo-nos na pele de um personagem que encarne o optimismo é uma sugestão.
Soube-me bem: O croissant que saboreei à tarde.
Foi inspirador: Ler os poemas de Li Bai.
Agradeço: A luminosidade da manhã.
“A vida espera apenas que você faça o seu script para que ela possa realizá-lo. A escolha do que é escrito depende de si.”
Roberto Leite
As principais correntes do pensamento chinês concordam na descrição de um princípio cósmico fundamental de que todo o Universo depende – o Qi. O Qi pode ser definido como o sopro vital do Cosmos. Cada um de nós está ligado a tudo o que existe, porque animado pelo mesmo “sopro” (Qi).
Há que saber dominar o Qi enquanto força secreta e esse domínio é feito por meio da relação correcta entre o Qi individual e o Qi do Cosmos.
Esta relação revela-se no facto de que quanto mais elevados e menos egoístas forem os nossos ideais, mais o Universo conspira a favor da sua concretização. Se a nossa meta de crescer e prosperar é capaz de gerar crescimento e prosperidade para outros, imediatamente começamos a ganhar cooperação, até de forma inesperada.
É possível ir sempre mais além. À medida que elaboramos visões do futuro em sintonia com o Universo, rumamos em direcção à felicidade.
Soube-me bem: Acordar de manhãzinha.
Hoje só quero agradecer à Eduarda Galhoz e pedir-lhe desculpa. A Eduarda é, para mim, um exemplo de vida, como já referi noutro post. Muito lhe devo e estou certa de que me perdoa porque perdoar só as grandes almas grandes o fazem e a sua alma é infinita.
Deixo um excerto do poema que generosamente me ofereceu neste dia tão especial para mim.
"Entre outras considerações
Investe na amizade
Que é uma força capaz
De proporcionar aventura
Descoberta e novidade
De alargar horizontes
De nos dar felicidade.
Para alcançar o Bem-Estar
Procura dar o prazer
A quem te rodear
A satisfação sentida
Dá sentido à tua vida!
E o mundo que nos foi dado
Tratemos de o melhorar
Aceitando todos aqueles
Com quem temos de o partilhar
E sempre em cada acção
Deve haver concentração
Quando for chegada a hora
De à origem regressar
Estaremos preparados
Para o momento respeitar
Com muita naturalidade
Se tivermos vivido
A nossa vida
Com toda a simplicidade."
Maria Eduarda Galhoz
“Está a imensidade de Deus no mundo e fora do mundo, está em todo o lugar e onde não há lugar, está dentro sem se encerrar e está fora sem sair, porque sempre está em si mesmo. O sensível e o imaginário, o existente e o possível, o finito e o infinito, tudo enche, tudo inunda. Por onde se estende e até onde? Até onde não há onde: sem termo, sem limite, sem horizonte, sem fim.”
Sermão de Nossa Senhora do Ó, Salvador da Baía, 1640
“No início, era o nada e dentro desse nada estava o Tao que deu origem a tudo quanto existe. Assim surgiu o universo ainda sem forma. Depois, gradualmente, os seres começaram a ter existência. A massa amorfa foi-se dividindo e surgiu uma cadeia ininterrupta de processos que vieram a constituir o que chamamos vida. Criaram-se então todos os seres pela harmonia entre as forças da estabilidade (Terra) e do movimento (Céu.)
(…) O universo como tal é a expressão do absoluto. Tudo muda ao longo do tempo, no decurso da evolução, de acordo com o que começa e o que acaba. O conhecimento ensina que as coisas mudam de aspecto e que o absoluto transforma-se em relativo. Esbate-se, por isso, a distância entre o grande e o pequeno, entre o que vem antes e o que vem depois, numa cadeia que não tem fim.”
Livro de Zhuangzi, cap. 3.
Misteriosamente formado,
Nascido antes do Céu e da Terra,
permanece solitário, imutável,
no silêncio do vazio,
sempre presente, sempre em movimento,
talvez a mãe de tudo debaixo do céu.
Não sei o seu nome,
vou chamar-lhe Tao.
Tao Te Ching, cap. 25
O objecto principal do pensamento chinês é a procura da harmonia, coerência, equilíbrio com o Tao. Harmonia nas relações dos homens entre si e na sua sintonia com os ritmos do Universo.
A harmonia dos laços que nos unem e a sua sintonia com os ritmos do universo são as grandes raízes da nossa felicidade e do nosso bem-estar.
Soube-me bem: O cheiro da terra molhada.