“O crescimento compra a felicidade nos países extremamente pobres, mas a partir do momento em que a nação atinge determinado nível de renda (…), acréscimos adicionais de renda não se traduzem em ganhos de bem-estar subjectivo. (…)
Décadas de forte crescimento económico nos Estados Unidos, Europa e Japão na segunda metade do século XX muito pouco ou nada alteraram as proporções de indivíduos felizes e infelizes na população dos respectivos países.”
Felicidade, Eduardo Giannetti
No plano internacional os estudos mostram que um aumento proporcional entre riqueza e felicidade dá-se até um nível em que os rendimentos se situam entre os 15 mil e 20 mil euros anuais. A partir daí mesmo que um país enriqueça não aumentará a felicidade e bem-estar dos seus cidadãos.
E depois… Nós, os seres humanos, sobretudo, comparamos. Em pesquisas realizadas nos últimos 20 anos a etnia enuit do norte da Gronelândia, assim como os massai do Quénia, que não têm luz nem água corrente, ficam na mesma escala vital que os milionários americanos (30% dos quais são mais infelizes que o americano médio). As pessoas não tendem a perguntar-se “será que esta casa responde às minhas necessidades?”, mas, sim, “será que a casa dos meus vizinhos/amigos não é melhor que a minha?”. À medida que a classe média se aproxima dos que ganham mais, a sua felicidade tende a diminuir. Deixam de se sentir gratos pelo que têm e passam a concentrar-se apenas no que não têm.
É justamente este um dos obstáculos da gratidão. Quando olhamos à nossa volta e vemos pessoas com coisas que não conseguimos alcançar é mais natural sentirmos ressentimento. Focamo-nos naquilo que não temos em vez de apreciarmos o que possuímos.
Talvez devamos reflectir nas palavras de Epicuro: "Não estragues o que tens ao desejares aquilo que não tens; lembra-te porém, de que aquilo que agora possuis, um dia já fez parte das coisas apenas sonhadas."
Soube-me bem: A bola de berlim que comi na praia.
Foi inspirador: Folhear a revista Psychologies de Setembro.
Agradeço: A água do mar.
“Em vez de sucumbir à tentação fácil de cuidar dos galhos, parte mais visível e agradável para olhar, é preferível cultivar a raiz da árvore, que tirando vida e alimento do mais profundo da terra enquanto cresce em direcção ao Céu, é a imagem perfeita da sabedoria chinesa, do seu senso de equilíbrio, da sua confiança no homem e no mundo.”
Anne Cheng
Zhong Guo é como se denomina a China em pinyin (a ortografia oficializada em 1973 pelas Nações Unidas, colocada à disposição dos não-chineses). Significa literalmente “país do meio” e os seus grandes pensadores teriam gostado, certamente, que fosse também o país do “justo meio”.
Como nos diz Anne Cheng a tradução de Zhong é ao mesmo tempo nominal e verbal. “Enquanto substantivo é o caminho justo que comporta o lugar adequado e o momento propício, enquanto verbo, é o movimento da flexa que trespassa o coração do alvo.”
Sinónimo de moderação e sincronização das acções humanas com as forças do Universo “o Meio não é um ponto equidistante entre dois termos, mas o pólo cuja atracção nos puxa para o alto.” Um pólo que cria na nossa vivência a vontade de nos aperfeiçoarmos cada vez mais.
Para Confúcio o homem não é bom nem mau: Ele é simplesmente "aperfeiçoável". Quando nascemos somos como as pedras que os artesãos transformam, posteriormente, em objectos extremamente refinados. O homem define-se, justamente, pela capacidade de se aperfeiçoar até ao infinito. Há que cuidar das raízes para chegar ao céu.
Soube-me bem: Caminhar e almoçar à beira-mar; chegar a casa, ligar o computador e sentir-me acolhida ao acolher a Marta e a Nucha.
Foi inspirador: Receber o e-mail da Eduarda transbordante de energia e gosto pela vida; um bálsamo, pessoas como a Eduarda.
Agradeço: O acolhimento que hoje senti.
"Grande parte da vitalidade de uma amizade reside no respeito pelas diferenças, não apenas em desfrutar das semelhanças."
James Fredericks
O amigo é aquele que nos faz "sair" de dentro de nós e, ao mesmo tempo, nos faz sentir que "somos" realmente. Como diz Gille Lipovetsky é a amizade que nos dá o sentimento de existir. Fruto da escolha e da afinidade; de um desejo de verdade e alteridade é a relação que melhor acolhe a singularidade de cada um. A célebre frase de Montaigne dita relativamente à sua amizade com La Boétie "porque era ele, porque era eu" é bem ilustrativa do quanto a nossa singularidade nos aproxima e de que é o AMIGO que nos aceita como somos.
A amizade é uma das relações que mais contribui para a nossa felicidade.
Soube-me bem: Ler os e-mails que recebi ontem e hoje de manhã (um deles justamente sobre a amizade).
Foi inspirador: Receber as palavras da minha amiga Alexandra.
Agradeço: À Alexandra o e-mail que me enviou. Tocou-me profundamente e sinto-me muito grata por tê-la como amiga.
"Devo agradecer aos deuses terem-me dado bons antepassados, um bom pai, uma boa mãe, uma boa irmã, bons preceptores, bons amigos, tudo o que se pode desejar de bom."
Marco Aurélio
A surpresa de uma nova dádiva aguarda-nos a cada passo do nosso caminho dando-nos sempre a oportunidade de ser felizes.
Quando sentimos gratidão reconhecemos o bem que devemos aos outros, apreciamos aquilo que nos foi dado e alegramo-nos com isso. Experimentamos uma "energia calma" e ficamos mais próximos, pela partilha, dos que nos rodeiam.
Ao reconhecermos o bem que devemos aos outros estamos a direccionar-nos para o exterior e rompemos o laço egoísta entre "nós", as nossas "possessões" e "riquezas". Tal implica humildade. Implica também aceitação (de que somos receptores de um benefício) a qual, por sua vez, requer reflexão, responsabilidade, desprendimento. É esse, no fundo, o caminho da gratidão: Um caminho de consciencialização, humildade, reconhecimento, aceitação e maturidade.
Um caminho que nos vai mostrando o que é realmente significativo e ajuda a desvalorizar o que é acessório e irrelevante. Um caminho de contemplação do belo milagre da vida.
Soube-me bem: Voltar a pintar.
Foi inspirador: Lembrar-me do dia de ontem e associá-lo a estas palavras de Graça Morais:
"Ao longo de uma vida vamos ganhando um corpo, uma alma, coisas, palavras, imagens, sons. Quando visito um museu, assisto a um espectáculo, leio um bom livro, sinto-me uma herdeira rica. O meu território alarga-se e enriquece."
Agradeço: Toda a riqueza que herdei.
"A Arte é um refúgio onde o espírito voa."
Gao Xingjiang
No seu livro "L`art du bonheur" Christophe André diz-nos que a contemplação da tela de um mestre é, em si, uma experiência de felicidade. Foi o que senti hoje ao contemplar as telas de Gao Xingjiang no Museu de Arte Moderna em Sintra. A pintura de Gao Xingjiang vai além da técnica tradicional chinesa de xieyi ("pintura do sentimento" ou "escrita do espírito"), pois conduz-nos à reflexão e faz-nos pensar profundamente. Uma pintura que, em silêncio, nos habita.
Gao Xingjiang é pintor, escritor e cineasta. Como se pode ler no catálogo da exposição "As profundidades e perspectivas dão vida a uma paisagem interior tão profunda que o observador se pode perder nela e, por sua vez, encontrar-se. Com Gao, a sobriedade da tinta-da-china eclode numa explosão de luz que desvenda as verdades que importam ao homem, mantendo-se, porém, o enigma inerente à arte."
Sem dúvida que este pintor "consegue penetrar o nosso "eu" mais profundo, até ao ponto de nos interrogarmos se não terá habitado em nós desde sempre."
Foi o refúgio onde voei.
Soube-me bem: A ida a Sintra.
Foi inspirador: Ver a exposição "Depois do dilúvio".
Agradeço: À blogosfera terapêutica.
“Um dos melhores indicadores de felicidade é o facto de uma pessoa considerar ou não que a sua vida tem um sentido, um objectivo (…).
A relação entre ter objectivos e bem-estar parece ser bidireccional. Importante é arquitectar, planificar e atingir objectivos concretos e realistas.”
Margarida de Lima
Mesmo que os objectivos tardem a ser concretizados devem existir para que os nossos dias não sejam desprovidos de sentido. Porém, devemos ser capazes de os rever periodicamente em conformidade com a realidade. A construção do nosso caminho faz-se em permanente movimento e exigência de adaptação a novos desafios. A resposta a esta exigência está na nossa flexibilidade e capacidade de mudar num âmbito de coerência.
Sugestão de actividade:
· Faça uma projecção da sua vida para daqui a 5 anos.
· Com se vê?
· Como gostaria de se ver?
Soube-me bem: Olhar para os bonitos cabeçalhos que a Joana enviou.
Foi inspirador: Ouvir a música de Otis Redding.
Agradeço: À Joana Santos o seu belo trabalho. Não sonharia melhor. Obrigada! Fiquei mesmo feliz.
“Estamos a dizer que é possível outra economia e que é absolutamente necessária para o Séc. XXI que seja compatível com a vida. Uma economia solidária com as pessoas e solidária com a vida no planeta, com a natureza, com a diversidade cultural, com a diversidade do conhecimento não apenas o académico, mas também o conhecimento que advém do terreno”.
Rogério Roque Amaro
Soube-me bem: Ver o post de ontem do meu filho Afonso (um agradecimento especial pelo filho maravilhoso que és.)
Foi inspirador: Rever o video acima.
Agradeço: Todo o afecto que recebi no dia de ontem.
"Deitei-me àquela sombra, e, em mim, senti
A terra em flor e o céu todo estrelado."
Teixeira de Pascoaes
Soube-me bem: A surpresa acarinhadora dos meus filhos nesta manhâ.
Foi inspirador: Ir ver a exposição de Júlio Pomar no Centro de Arte Manuel de Brito em Algés.
Agradeço: As maiores dádivas da minha existência: A Mãe que tive e os filhos que tenho.
“A China é aquele Outro fundamental sem cujo encontro o Ocidente não pode tomar verdadeira consciência dos contornos e limites do seu Eu cultural.”
Simon Leys, Ensaios sobre a China
No início do século XXI ainda parece dominar no Ocidente a imagem de uma China com um pensamento radicalmente diferente, decorrente de uma tradição despótica e de um isolamento secular.
E no entanto… As culturas estão de tal forma ligadas entre si que deveríamos desconfiar de quaisquer (di)visões binárias.
É justamente na interdependência existente entre tudo e todos nós que o pensamento antigo chinês alicerça a sua construção. Esta interdependência é visível nos próprios textos dos pensadores chineses cujas ideias se desenvolvem num grande jogo de remissões. Os textos não constituem sistemas fechados: O seu sentido é elaborado na rede de relações que entre eles se estabelece. Pode dizer-se que o pensamento chinês procede em espiral, aprofundando, cada vez mais, o sentido de uma lição ou de um ensinamento. Aliás, os textos, na educação chinesa, são primeiramente memorizados e depois aprofundados continuamente seja pela consulta, comentários, discurso, meditação – são objecto de uma vivência. Não existe a preocupação em descobrir uma verdade de ordem teórica, mas sim de ordem prática. O pensamento chinês não é da ordem do ser, mas de um processo em desenvolvimento que se afirma e aperfeiçoa na fluência do seu percurso. O seu objecto principal é a procura da harmonia, coerência, equilíbrio. Harmonia nas relações dos homens entre si e na sua sintonia com os ritmos do Universo.
O mundo é percebido como totalidade, a partir do interior dele mesmo (não há razão fora do mundo), numa relação contínua entre o todo e as partes que o constituem. Esta percepção tem a sua representação privilegiada na figura do Yin/Yang: Caminho de um ponto que nasce ao passar pelo Yin e depois, maduro, se transforma no Yang, acabando por descrever um círculo, imagem por excelência da globalidade.
No pensamento chinês não existe separação, mas sim uma polaridade entre dois elementos que não podem existir um sem o outro. “Cara” não é o contrário de “coroa”. Trata-se de uma só e única peça que tem dois lados.
A unidade procurada pelo pensamento chinês é a própria unidade do sopro (Qi), a energia vital que anima o Universo inteiro. É na função reservada ao Qi que se manifesta mais eloquentemente o tema da comunhão com o Universo. Cada um de nós está ligado a tudo o que existe, pois está animado pelo mesmo “sopro”. Mais ainda do que o sopro que anima os seres vivos, o Qi é o princípio da realidade única e una que dá forma a todas as coisas e todos os seres no Universo: O princípio unificador que permite explicar a infinita multiplicidade. Assim, não existe demarcação entre os seres humanos e o resto do mundo.
Ao mesmo tempo espírito e matéria, o “sopro” assegura a coerência orgânica da ordem dos vivos a todos os níveis. Sendo eminentemente concreto ele não é, no entanto, sempre visível ou tangível: “Pode ser o temperamento de uma pessoa ou a atmosfera de um lugar, o poder expressivo de um poema, ou a carga emocional de uma obra de arte”1.
O Qi na sua forma material é leve, forte, subtil e flutua no ar; na sua forma mais grosseira, entranha-se nas substâncias sólidas.
Pode dizer-se que o Qi é a força alquímica por excelência: Consegue tanto no homem, como no resto da natureza, transmutar a matéria mais bruta no espírito mais puro.
O sopro vital não é uma entidade compacta ou estática. Pelo contrário, ele é por essência mutação. Aliás, a ideia de mutação/transformação é essencial no pensamento chinês que não procede de uma maneira linear ou dialéctica, mas sim, em espiral, por círculos cada vez mais fechados, aprofundando cada vez mais o sentido de um ensinamento, de uma experiência (como se mencionou acima). A realidade é percebida como um movimento ininterrupto cíclico: Um vaivém permanente que nunca regressa exactamente ao ponto de partida, pois existiu toda uma tecedura que permitiu a transformação, o encontro do novo.
O “novo” que se impõe a cada instante. Há que estar preparado para o receber numa permanente relação de troca e aceitação. Esse será o nosso grande desafio: Construirmo-nos incessantemente num caminho em que o regresso nos encontra transformados.
Um constante retorno, sinónimo de aperfeiçoamento.
Um aperfeiçoamento só possível na dimensão afectiva e emocional de uma relação de reciprocidade.
Uma relação de reciprocidade que todos integra numa perfeita sintonia com o Universo.
Este foi um texto que escrevi para a revista "Temas e Debates" da minha escola.
Soube-me bem: Reler algumas passagens do meu livro de cabeçeira: "O que disse Tianyi" de François Cheng.
Foi inspirador: Ver as pinturas do meu pintor preferido Zao Wou Ki no site http://www.asianart.com/exhibitions/zao/index.html
Agradeço: À Chiado Editora ter tornado uma realidade a publicação do meu livro:
A palavra Naikan significa "olhar para dentro" e denomina uma técnica de meditação budista que nos ajuda a estruturar a nossa introspecção e a ver a qualidade recíproca dos relacionamentos.
Implica reflectir sobre três perguntas:
O primeiro passo a dar será o de reconhecer todas as dádivas que recebemos (o sorriso de alguém, o auxílio de um amigo, as palavras gentis do nosso colega). Como nos diz Robert A. Emmons no seu livro "Obrigado" "quando nos focamos no bem que entra nas nossas vidas todos os dias, podemos ser preenchidos com uma profunda apreciação ao invés de nos afundarmos sob o peso dos nossos problemas".
Em seguida, devemos focar-nos naquilo que damos aos outros. Isto ajuda-nos a perceber a nossa conexão com os outros. Devemos perguntar-nos: "Através de que formas posso "retribuir" adequadamente aos outros pela gratidão que sinto?"
Por último, o mais difícil: Reconhecer a forma como magoamos os outros através dos nosso pensamentos, palavras ou acções. Devemos estar dispostos a ver e aceitar o sofrimento que causamos aos outros.
Esta técnica de meditação pode ser praticada diariamente durante cerca de 20 m ao fim do dia.
Soube-me bem: O silêncio matinal (sabe sempre).
Foi inspirador: Ouvir Mercedes Sosa.
Agradeço: O acolhimento do meu quarto.