Hoje tinha pensado escrever sobre outro assunto, mas a leitura do último post da minha amiga Joana remeteu-me para algo que com ele se relaciona: O julgamento e a vontade que temos, muitas vezes, de interferir nas vidas dos outros.
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“Um sujeito colocava flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês a colocar um prato de arroz na lápide ao lado. Vira-se então para o chinês e pergunta:
Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz?
E o chinês responde:
Sim, quando o seu vier cheirar as flores!!!”
Esquecemo-nos, frequentemente, que somos diferentes, que agimos e pensamos de forma diferente. Muitas vezes, não respeitamos essa diferença e JULGAMOS pura e simplesmente o outro, sem sequer tentar compreender. Classificamos, rotulamos… Avaliamos constantemente as coisas como certas ou erradas, boas ou más. Este julgamento constante leva-nos, por vezes, a tentar controlar os outros, intrometendo-nos na sua vida, com a presunção de que, melhor do que eles, sabemos qual será a melhor forma de seguirem o seu caminho. Pensamos que o outro é portador de uma determinada bagagem, temos a presunção de saber com que bagagem viaja, imiscuímo-nos na sua vida e insistimos em dizer-lhe o que deve levar. Esquecemo-nos que, nem sempre, a bagagem do outro é aquela que pensamos ser.
Eis uma história de Jorge Bucay sobre este tema:
Conta-se que uma senhora argentina foi comprar dois bilhetes para um voo de primeira classe entre Buenos Aires e Madrid. Quando o empregado da agência se apercebeu que o acompanhante da senhora era um macaco, a companhia aérea opôs-se a que um macaco viajasse em primeira classe e não aceitou o argumento da senhora que afirmava que, se pagava, podia decidir com quem viajava e para onde. No entanto, a senhora tinha bastante influência e conseguiu que o macaco fosse como acompanhante, numa caixa especial coberta de lona, numa zona das hospedeiras do avião, em vez de ir no porão da bagagem.
Embora de má vontade, a senhora aceitou e no dia do voo chegou ao avião com uma jaula coberta por uma lona sobre a qual se via bordado o nome “Frederico”. Ela mesma tratou da jaula, certificando-se de que ficava bem arrumada e despediu-se dizendo: “Em breve estaremos na tua terra Frederico, tal como prometi ao Joaquim.”
A meio da viagem, uma hospedeira lembrou-se de dar uma banana e água ao macaco e, ao levantar a lona, apercebeu-se de que o animal estava morto. Rapidamente, avisou os colegas de bordo que contactaram a empresa a pedir instruções. Foram informados de que era necessário que a senhora não se apercebesse de nada, uma vez que eram os seus postos de trabalho que estavam em jogo. Resolveram então substituir o macaco por outro vivo quando chegassem a Madrid (depois de terem enviado a fotografia de Frederico para proceder à substituição). Assim o fizeram: Deram alguns retoques ao macaco vivo e levaram o cadáver de Frederico. Ao descer do avião, a senhora reclamou a jaula à tripulação. Suspirando, a senhora ao dizer que finalmente tinham chegado, levanta a lona e espantada afirma que aquele não é Frederico. Quando lhe respondem que ela está enganada pois todos os macacos são iguais, a senhora observa que Frederico estava morto e ela o levava para o enterrar em Espanha, tal como tinha prometido ao seu marido antes de este falecer.
É essencial ter consciência de que não sabemos com que bagagem viaja a outra pessoa e respeitarmos a liberdade e o espaço de que necessita.
Soube-me bem: Reler Walt Whitman - "Do I contradict myself? /Very well then I contradict myself,/ (I am large, I contain multitudes.)"
Agradeço: As minhas contradições, a diversidade em mim.
PROPONHO PARA REFLEXÃO
Estas palavras de Deepak Chopra:
“O não-julgamento cria um silêncio no nosso espírito. Portanto, é uma boa ideia começar o dia com esse propósito. E durante o dia, recorde-se desse propósito sempre que se aperceber que está a fazer um julgamento. Se lhe parecer demasiado difícil manter este procedimento durante todo o dia, pode apenas decidir para si próprio: Durante as próximas duas horas não vou fazer julgamentos sobre nada. Depois, vá aumentando, pouco a pouco, o tempo da duração da experiência."
O silêncio no nosso espírito contribui para o nosso desenvolvimento pessoal e este para a nossa felicidade.