Domingo, 11 de Abril de 2010

Autonomia interior

“O homem pode ser desapossado de tudo excepto de uma coisa: A última das liberdades humanas, a liberdade de escolher a atitude que adopta ante qualquer conjunto de circunstâncias e de escolher o seu próprio caminho.”

Victor Frankl

“Acredito verdadeiramente que é possível criar, mesmo sem jamais ter escrito uma palavra ou pintado um quadro, apenas moldando a nossa vida interior. E isso também é uma proeza.”

Etty Hillesum

 

A interligação entre tudo e todos cuja manifestação já referi, noutras ocasiões, revelar-se de uma forma nítida na blogosfera, esteve mais uma vez presente, para mim, no dia em que a minha amiga Marta escreveu o seu excelente post "Será este o segredo?" É que este post foi de encontro, de uma outra forma, ao que li, logo em seguida, num livro (Ecologia emocional) que comprara dois dias antes. E o que li relatava um episódio da vida de um colunista americano que acompanhara um amigo a um quiosque para comprar o jornal. O amigo cumprimentara amavelmente o vendedor, mas este respondera com modos bruscos, atirando o jornal sem qualquer consideração. Apesar da antipatia do vendedor o amigo do colunista sorrira e calmamente lhe desejara bom fim-de-semana. Estranhando como é que o seu amigo conseguia mostrar-se sempre educado e amável perante a antipatia do vendedor, logo teve a resposta:

- Eu não quero que seja ele quem decide a maneira como EU me comporto.

 

As condições exteriores têm uma influência importante nas nossas vidas, mas não são elas que nos determinam. Não fomos nós que escolhemos a família que nos iria acolher, o ambiente que nos iria rodear, os recursos a que teríamos acesso. Mas somos nós que escolhemos a atitude e o comportamento a adoptar perante as nossas circunstâncias. É essa a nossa liberdade, é essa a nossa grande riqueza. O nível de paz estrutural atingido pelo monge budista Matthieu Ricard “que nenhuma conjuntura desfavorável consegue subverter totalmente” é uma prova eloquente da nossa magnificência interior.

publicado por descobrirafelicidade às 10:36
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4 comentários:
De Marta M a 11 de Abril de 2010 às 22:17
"Depois desta noite, houve um momento em que senti seriamente que, de futuro, seria pecado voltar alguma vez a rir" (Cartas) - Quando li esta afirmação de Etty Hillesun senti o impacto de um torpedo dentro de mim...Já experimentara essa sensação...
E percebi a sua "arte" com as palavras.
Interessante citares essa escritora judia tão irreverente , numa época em que falo da 2ª Guerra aos meus alunos. mais uma coincidência, não é?
Como aquelas que referi no meu post , que tu simpaticamente referes.
Sermos senhores do nosso comportamento apesar de todas as vicissitudes e das circunstâncias adversas é mesmo difícil (mas hoje só fazes propostas difíceis?!) e requer espinha dorsal...
Penso poder afirmar que procuro fazer tudo com alguma elevação e já fui demasiadas vezes confrontada com que não o faz. Desde muito nova que esse tem sido um dos exercícios da minha vida...
E confesso que já estou cansada desta vigília constante e dessa luta em tantas frentes....
Mas também sei que já não mudarei e, como disse aquele colunista, posso não dominar as circunstâncias, a família, ou até as pessoas da minha vida, mas posso sempre determinar o meu comportamento.
Disso já não abro mão ;)
Tenho que controlar alguma coisa, já agora!
Abraço grande e obrigada por me fazeres pensar e "pesar"
Boa semana!
Marta M
De descobrirafelicidade a 11 de Abril de 2010 às 23:02
Marta
Fizeste-me sorrir agora (com as minhas propostas difíceis... e com o "Tenho que controlar alguma coisa, já agora!).
Sabes, a Etty Hillesum também me acompanhou (tal como a Anne Frank na minha infância/início da adolescência de que já tínhamos falado) num período da minha vida. Aquela sua vida interior intensa tão bem expressa numa frase de que não me esqueci - "excedo-me em bacanais do espírito" - o seu despertar espiritual (a sua preocupação com Deus - "Vou ajudar-te Deus a não me abandonares"), o silêncio crescente dentro dela, tocaram-me profundamente. Neste post era para citar esta sua frase relativa ao sofrimento: "O que interessa é o modo como as pessoas o carregam e se uma pessoa lhe sabe dar espaço, continuando porém a aceitar a vida". Depois, optei por outro rumo.
Que bom sentir esta sintonia. Uma boa semana para ti também!
De Caminhando... a 14 de Abril de 2010 às 16:53
Muito bonito este post.
Acredito que o exterior tem importancia mas mais importancia ainda tem a maneira como reagimos e encaramos o que nos acontece. Temos sempre varios caminhos por onde escolher. Existe o da vitimização, o da amargura, o da resiliencia entre outros. Cabe a cada um optar consoante os valores que defende e a sua vontade claro. Mas não acredito de forma nenhuma que é o exterior que nos torna em quem somos, como tantas vezes ouço. Confortante esta lufada de ar fresco.

Bjs
De descobrirafelicidade a 17 de Abril de 2010 às 12:43
E tu minha amiga Joana és bem o exemplo de que não é o exterior que nos determina. Se dúvidas tivesse, elas ter-se-iam diluido quando soube um pouco mais de ti. Abraço-te com carinho

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